O mercado de câmbio teve novo pregão de nervosismo e o dólar fechou em alta pelo terceiro dia seguido, se mantendo no maior nível desde antes da eleição presidencial do ano passado. O mercado externo teve peso decisivo para a valorização da moeda americana nesta segunda-feira (27), que subiu ante a maioria dos emergentes e moedas fortes, mas notícias domésticas também contribuíram para o investidor fugir de ativos de risco e buscar proteção no dólar. Entre elas, a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e a repercussão negativa das queimadas na Amazônia, que pode afugentar investidores estrangeiros e prejudicar negociações comerciais do Brasil.
O dólar à vista fechou em alta de 0,36%, a R$ 4,1395, maior valor desde 18 de setembro do ano passado (R$ 4,14).
Na máxima do dia, a moeda americana bateu em R$ 4,16 no meio da tarde, influenciada pelas fortes perdas das ações do BTG Pactual, banco envolvido nas investigações da Operação Lava Jato Perto do fechamento, o ritmo de alta se reduziu, com o banco tentando tranquilizar os investidores fazendo uma teleconferência e divulgando comunicado. A moeda americana acumula alta de 8,37% no mês.
"O ambiente externo está muito ruim e aqui dentro as notícias não ajudam", afirma a economista e estrategista de câmbio do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressaltando que a falta de avanço nas negociações comerciais entre a China e os Estados Unidos segue provocando um forte sentimento de aversão ao risco. "Os investidores não veem sinais claros de melhora das conversas e ficam muito arredios em relação aos mercados emergentes." O noticiário negativo sobre a Amazônia, ressalta a economista, não ajuda e deixa o investidor internacional ainda mais cauteloso com o Brasil.
Uma das mostras da maior cautela foi a alta do Credit Default Swap (CDS), um termômetro do risco país, que subiu para 143 pontos, considerando os contratos de cinco anos. No fechamento da sexta-feira, o CDS fechou em 139 pontos, de acordo com cotações da IHS Markit. Em outra mostra de cautela, o fluxo de estrangeiros está negativo em US$ 4,8 bilhões este mês, até o dia 22, segundo o Banco Central, que vendeu o lote integral de US$ 550 milhões das reservas no mercado à vista.
Entre os grandes bancos internacionais, segue o tom de prudência com emergentes. "Permanecemos cautelosos com as moedas de emergentes", afirma o estrategista do Citi, Dirk Willis. "A incerteza sobre o cenário para a guerra comercial EUA/China segue elevada", completa ele, ressaltando os riscos para a piora economia se esta situação não se resolver.