Poupança está perdendo da inflação

Com juros altos e preços em alta, a tradicional caderneta não está mais tão atrativa
Leonardo Spinelli
Publicado em 26/03/2015 às 8:00
Com juros altos e preços em alta, a tradicional caderneta não está mais tão atrativa Foto: Igo Bione/JC Imagem


A combinação de juros altos e inflação elevada atingiu em cheio a rentabilidade da poupança, mais  tradicional aplicação do brasileiro. Mas, atualmente, quem trabalha para guardar o dinheirinho suado todo mês na caderneta, em vez de proteger as economias está, na verdade, perdendo dinheiro. Pagando 7,1% no ano para as aplicações que fizeram aniversário ontem, o rendimento perde da inflação para o mesmo período, 7,7%, segundo o IPCA.

 Essa diferença entre os dois percentuais deverá se alargar até o final do ano. O mercado projeta um índice inflacionário superior aos 8% no final 2015. Com os juros altos, a poupança continuará pagando o rendimento tradicional de 0,5% ao mês (6,15% ao ano) mais a TR, que varia pouco e ficou em 0,90% nos últimos 12 meses.

O QUE FAZER?
Há alternativas para fugir das perdas. Quem tem pouco dinheiro guardado pode encontrar nos títulos públicos atrelados às taxas de juros básica da economia, o Tesouro Selic (LFT), uma rentabilidade que protege da inflação e garante as mesmas características de liquidez da poupança. Ou seja, precisando utilizar a reserva para alguma emergência, é possível resgatar a aplicação em qualquer dia. A Selic definida pelo Banco Central está em 12,75% ao ano e o Tesouro Selic (LFT) paga a média de mercado de 12,65%.
“A principal novidade do Tesouro Direto é a liquidez diária. A partir do dia 30, o aplicador poderá fazer a revenda de seus papéis diariamente. Antes, isso só era possível nas quartas-feiras. Agora essa aplicação se igualou à poupança”, diz o gerente de mesa da Finacap, Leandro Lima.
Além disso, o risco de crédito das duas aplicações se equivale, já que é o próprio Tesouro Nacional quem garante o rendimento, tanto dos títulos públicos, quanto da poupança (os depósitos na caderneta, em si, têm proteção do Fundo Garantidor de Crédito até o montante de R$ 250 mil).

COMPARE
Leandro destaca outra semelhança entre as duas aplicações. “Nos dois casos, o investidor terá de esperar 30 dias para conseguir rentabilidade”, diz. Em termos de rendimento, no entanto, a diferença é grande. Enquanto a poupança, mesmo isenta de Imposto de Renda sobre a rentabilidade, pagou num ano os já citados 7,1%, o Tesouro Selic para uma aplicação de um ano, já descontando 17,5% de IR e 0,55% de custódia, entregará uma renda média de 10,38%.
 Numa aplicação de R$ 1.000 isso representa ganho de R$ 7,83 para poupança e de R$ 10,44 para o título público. Há outras opções de título que pagam até melhor, mas não têm o mesmo nível de risco. Vale lembrar que Bolsa de Valores e aplicações cambiais, por exemplo, devem ser feitas sempre com a assessoria de especialistas.
Para quem tem mais capital investido e poder de barganha em relação às taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras, num patamar acima de R$ 20 mil, há diversos outros produtos no mercado que entregam rentabilidade acima da poupança. A principal delas são as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito Agrícola (LCA). Assim como na poupança, essas aplicações são isentas do IR. Apesar de não ter o mesmo nível de liquidez, as LCIs e LCAs pagam algo em torno de 91% do CDI, o que pode garantir uma rentabilidade líquida de 11,46% em 12 meses em bancos médios (que oferecem rentabilidade maior, normalmente). A aplicação também tem proteção do FGC para valores até R$ 250 mil. Ou seja, se a instituição quebrar, o fundo reembolsa o aplicador até este valor.
Os CDBs também aparecem como opção e têm as mesmas garantias do FGC. A diferença é que nesta aplicação incidem os percentuais de 15% a 22% de Imposto de Renda, dependendo do período em quem o dinheiro ficou aplicado. Quanto mais tempo, menos o IR incide sobre a rentabilidade. “Dependendo do banco, o CDB paga até 100% do CDI (que se aproxima bastante da Selic). Para essa aplicação os valores mínimos são de R$ 10 mil”, comenta Diego Mendonça, assessor de investimento da Athena, referindo-se às taxas de administração que diminuem à medida que o valor aplicado aumenta.

Para Leandro Lima, em nenhuma hipótese os fundos DI administrados pelos bancos são uma boa alternativa para quem tem valores pequenos a aplicar. “Os fundos Di de renda fixa têm taxa de administração mais alta para recursos baixos, que giram em 2%. Isso é três vezes maior que as taxas pagas no Tesouro. Além disso, a rentabilidade é mais baixa, porque pagam 90% do CDI. Porque eu vou trocar uma LFT que paga 100% da Selic por outro produto que entrega 90%?”

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