O bom funcionamento da padaria da esquina proporciona muito mais benefícios para sua vizinhança que apenas o pão de cada dia. Como uma espécie de pequeno ecossistema, a economia do seu bairro depende da interação entre os “microrganismos” – ou consumidores e pequenos comerciantes – para manter a região valorizada e movimentada. Esse equilíbrio depende principalmente da relação entre os moradores e micro e pequenas empresas, que têm como principal vantagem a relação mais pessoal com a clientela.
“Quando o capital gira em determinado território, surgem mais oportunidades de negócios, distribui renda naquela região e promove o desenvolvimento da localidade como um todo. Tudo isso acaba refletindo no próprio patrimônio do morador”, analisa o superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Pernambuco (Sebrae), Oswaldo Ramos.
De arquitetura horizontal e tradição residencial, o bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife, é um exemplo de interdependência entre o consumo dos moradores e os negócios locais. A cerca de dez quilômetros do centro da cidade, muitos moradores dão preferência ao comércio que fica perto de casa. “Se sei que o que eu quero posso comprar aqui perto de casa, não opto por sair de forma alguma. Além de fortalecer o meu bairro sei que isso vai me poupar de filas e aborrecimentos”, afirma o biólogo Pedro Carvalho.
A mobilidade é o benefício mais claro de estimular negócios na vizinhança, mas o desenvolvimento social também está na lista. “Quem vem aqui, volta. E vê que esse tipo de negócio emprega o vizinho, a amiga ou prima”, garante o empreendedor Ademir Fernandes, que administra o salão de beleza Edileuza Cabeleireiros, na Várzea.
Com a geração de empregos na própria comunidade, além do incremento na renda das famílias do local, há a tendência de redução da criminalidade. “É importante manter os bairros como centros de sociabilidade. Com a existência dos pequenos negócios, e o consequente movimento que surge junto com isso, é possível afastar a violência e a decadência de toda a área”, defende o professor de economia da PUC-SP, Antônio Carlos Alves dos Santos, lembrando que esse pensamento é bastante compartilhado na europa, com bairros auto-suficientes.
Em um ponto próximo do salão, o empresário Jonas Gomes, à frente da loja de suplementos Vita Saúde, destaca os benefícios da maior proximidade entre lojista e cliente. “Já conheço os gostos de quem frequenta a loja e quando chega algum produto que eu acho que seja do interesse dele eu já ligo, ofereço por um preço especial”, diz.