O lado lucrativo do Aedes

Medo das doenças transmitidas pelo mosquito aquece mercado local de medicamentos, repelentes e telas protetoras
Angela Belfort
Publicado em 08/03/2016 às 9:16
Medo das doenças transmitidas pelo mosquito aquece mercado local de medicamentos, repelentes e telas protetoras Foto: Foto: JC Imagem


O aumento dos casos de dengue, chicungunha e zika está provocando uma onda de consumo de produtos que podem evitar a picada do Aedes aegypti – que provoca as doenças – ou combatem os seus sintomas. Nos dois primeiros meses deste ano, foram notificados 25.054 casos de dengue, enquanto durante todo 2015 ocorreram 24.558 notificações. Repelentes, mosquiteiros, analgésicos, telas contra mosquitos e até o tradicional Espiral Sentinela registraram, desde janeiro último, um aumento na sua comercialização maior do que o previsto.

“Os analgésicos tiveram um aumento nas vendas 20% a 30%. A procura por repelentes cresce a cada dia e o incremento das vendas ficou em 150%, comparando fevereiro último com o mesmo mês do ano passado”, diz o presidente do Sindicato das Farmácias de Pernambuco, Ozeas Gomes.

“A demanda pelos analgésicos foi menor, porque depende do médico”, explica Ozeas. Já a procura pelos repelentes está tão intensa que as fábricas estão tendo dificuldade de entregar a quantidade que as farmácias estão pedindo. “A gente pede 200 unidades (de repelentes), chegam 150. É por isso que o produto vem faltando em alguns pontos de venda por poucos dias”, conta Ozeas.

O medo do mosquito fez aumentar a demanda de um produto que nem era muito vendido por aqui. É o repelente importado que se tornou um dos mais procurados por oferecer uma proteção de até 10 horas, segundo a farmacêutica Andréa Lins.

“A preocupação de não encontrar esse inseto aumentou. O pior é saber que todos contribuímos para que isso.O que resta é ter um pouco mais de educação e não esperar só pelo governo”, lamenta Ozeas, se referindo aos possíveis criadouros do mosquito que podem estar em garrafas e outros objetos encontrados na rua.Na farmácia dele, a venda dos produtos relacionados à tríplice epidemia resultou num aumento de 5% da receita. “As vendas aumentaram muito em volume, mas os produtos não são caros”, acrescenta.

O crescimento das vendas que aconteceu a partir do começo deste ano alterou a rotina do microempresário Humberto Nunes de Alencar, proprietário da loja HMS Telas, que comercializa telas antimosquito, de inox e antirroedores. “O movimento começou a aumentar desde outubro do ano passado, mas em janeiro deste ano registramos um aumento de 400% nos pedidos, comparando com o mesmo mês de 2015”, argumenta.

No começo de 2016, ele alugou uma casa para ter um escritório e um lugar maior de montagem das telas, além de contratar mais dois funcionários. Até o ano passado, somente ele e o filho trabalhavam no empreendimento.

Antes da demanda aumentar, ele entregava uma tela em 48 horas. “Atualmente, são de 12 a 15 dias para conseguir instalar uma tela”, afirma. O produto é importado do México. Sem revelar números, Humberto diz que a receita do empreendimento teve um “aumento considerável”. Atualmente, vende cerca de 200 telas antimosquito por mês, quando antes da epidemia eram 20.

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