Turismo criativo muda vida de comunidades e empreendedores

Alternativa ao turismo convencional ganha força no Recife. Cidade já conta com um plano de desenvolvimento para o segmento
Edilson Vieira
Publicado em 23/12/2018 às 8:13
Alternativa ao turismo convencional ganha força no Recife. Cidade já conta com um plano de desenvolvimento para o segmento Foto: Leo Motta/JC Imagem


Uma ex-pescadora que oferece oficinas de cozinha para turistas na comunidade da Ilha de Deus, que fica Imbiribeira, Zona Sul do Recife. Um turismólogo que leva visitantes para conhecer a cidade de bicicleta. E um produtor cultural capaz de organizar um carnaval de rua, em qualquer época do ano, para o turista ver e participar na Bomba do Hemetério, Zona Norte da Capital. Estes são exemplos do chamado “turismo criativo”, uma alternativa ao turismo convencional que começa a ganhar força e já tem exemplos de negócios bem estruturados no Recife.

Para Larissa Almeida, uma das fundadoras da Recria (Rede Nacional do Turismo Criativo), Pernambuco tem um potencial grande para o segmento porque é um tipo de atividade econômica que não demanda grandes estruturas, e está mais ligado ao capital humano. “Você precisa de pessoas criativas que façam algo e de outras pessoas que queiram aprender. É um turismo que conecta pessoas”, resume Larissa Almeida.

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A Recria é uma iniciativa local mas que tem o propósito de fomentar os negócios do turismo de base comunitária em todo o País. Segundo Larissa Almeida, o turismo com este tipo de abordagem vem crescendo no mundo. “Ibiza, na Espanha, sempre explorou o turismo de massa e há algum tempo vem empregando o turismo criativo para renovar essa cadeia. Outro exemplo é o caso de Loulé, no Algarve, em Portugal, que encontrou uma forma de manter a tradição que existe lá das panelas feitas em flandres. Ou ainda pequenas cidades na Finlândia que vendem como produto turístico oficinas de bonecos de neve. E tem gente para consumir isso. É uma demanda mundial”, afirma Larissa Almeida. Ela diz que por aqui, visitar roteiros assim ainda é algo feito, geralmente, por pessoas com interesses específicos como acadêmicos atraídos por comunidades ou sustentabilidade, não faz parte de um roteiro regular de atrações.

TURISMO

A Catamaran Tours, empresa que realiza há 30 anos passeios de barco pelos rios que cortam a capital pernambucana, estruturou há cerca de dois anos um tour pela Ilha de Deus, comunidade de pescadores localizada bem ao lado do Parque dos Manguezais, área pouca conhecida do Recife, no estuário da Bacia do Pina e cortada por três rios: Pina, Jordão e Tejipió. Claudia Heráclio, gerente de marketing da Catamaran Tours explica que o passeio para a Ilha de Deus é feito sob demanda. “As pessoas nos ligam e vamos montando grupos. Geralmente são estudantes ou visitantes com interesse na abordagem social mas que se encantam com o lugar quando conhecem ”, diz Claudia. O passeio leva cerca de duas horas e custa R$ 58 por pessoa.

Para Josenilda Silva, a Nalvinha da Ilha, presidente da ONG, Centro Educacional Popular Saber Viver, entidade que faz a governança dos produtos turísticos, ainda existe um certo desconhecimento do público em relação a comunidade. Para ela, o local ainda é associado por alguns a pobreza extrema de antigamente. “Lutamos muito para mudar a nossa realidade e conseguimos. Desde 2012 os turistas nos visitam. Temos um hostel onde recebemos jovens de todo o mundo interessados em intercâmbio social. A grande maioria dos dois mil moradores da ilha vive da pesca mas o turismo está trazendo uma renda melhor. Uma marisqueira que atende os turistas ou vende artesanato pode ganhar R$ 100 em poucos minutos. Com a pesca é preciso um dia inteiro de trabalho pra apurar esse valor”, diz Nalvinha.

Somente este ano, a Ilha de Deus recebeu cerca de oito mil turistas, segundo Edy Rocha, operador de turismo local. Ele também administra o site www.ilhadedeus.com.br que conta a história da comunidade e comercializa as experiências oferecidas pelos moradores. O Recife é a primeira cidade do Nordeste, e a terceira do País, ao lado de Porto Alegre e Brasília, a contar com um Plano de Turismo Criativo. O documento foi lançado na semana passado, durante o Seminário Internacional de Turismo Criativo, realizado pela Prefeitura do Recife. No evento, a secretária municipal de Turismo, Esporte e Lazer, Ana Paula Vilaça, explicou que as diretrizes do plano serão aplicadas a partir do próximo ano, e tem, entre outros objetivos, aproximar comunidades tradicionais dos visitantes “Recife tem lugares especiais que não fazem parte do roteiro habitual dos turistas”, afirma a secretária.

Atualmente, Recife tem apenas três produtos estruturados sobre a linha do turismo criativo: o polo cultural da Bomba do Hemetério; as experiências gastronômicas, educativas e ambientais da Ilha de Deus; e os roteiros de bike oferecidos pela La Ursa Tours.  Segundo a gerente geral de inovação turística da secretaria de turismo do Recife, Karina Zapata , com o plano municipal será possível orientar tanto as comunidades como os empreendedores, a oferecer um turismo diferenciado. O documento aborda pontos como qualificação, infraestrutura, formatação de produtos e serviços criativos, comunicação, governança e desenvolvimento territorial. Para Karina Zapata, o resultado é a melhoria de vida nas comunidades. Tanto na auto-estima como na renda familiar. “Recife tem um jeito diferente de fazer as coisas. Nós contamos com gente que pense o empreendimento conectado com a cidade. Queremos gente para sonhar, mobilizar vontades, juntar expertises e construir ideias e propostas para deixar o Recife mais encantador”, falou entusiasmada. O Plano de Turismo Criativo do Recife está disponível para download em www.visit.recife.br.

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