Com causa indefinida até o momento, um vazamento de petróleo cru compromete mais de 1.500 quilômetros do litoral do Nordeste, totalizando 105 praias de 48 municípios. Em Pernambuco, são 16 praias atingidas. A lista de locais afetados pela substância química não para de crescer e nesta quinta-feira (26), segundo balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), revela um dado alarmante: com exceção da Bahia, todos os outros oito estados do Nordeste foram atingidos.
As primeiras manchas foram identificadas no dia 2 de setembro. Desde então, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Marinha do Brasil investigam a situação. Até o momento, o consenso dos órgãos ambientais é de que o problema tenha sido causado por uma embarcação no alto mar, que não é do Brasil, mas a origem do vazamento não foi localizada.
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Uma investigação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com apoio do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, aponta que o petróleo que está poluindo todas as praias seja o mesmo, e a origem não é do Brasil.
“Esse tipo de acidente nunca tinha acontecido aqui no Brasil. Normalmente, as manchas de origem desconhecida, que é o caso dessa, são de pequeno impacto e abrangem só um estado. É a primeira vez que a gente está vendo um acidente, sem poluidor conhecido, atingir tantos estados”, disse a coordenadora geral de Emergências Ambientais do Ibama, Fernanda Pirillo.
Segundo Fernanda, o número de localidades atingidas pelo óleo ainda pode aumentar. “A gente ainda está fazendo o diagnóstico. Muitas praias ainda não foram vistoriadas. Pode ser que óleo seja encontrado em outros locais, aumentando esse número”.
A Marinha enviou material para o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, no Rio de Janeiro, mas não havia resultados até esta quinta-feira.
O que diz a UFPE
Para a professora Mônica Costa, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o vazamento não parece ser muito antigo, por causa da consistência do piche.
"Pela proporção, parece um acidente grande, com milhares de quilômetros e não tem caráter de lavagem de tanque, parece um acidente com transporte ou produção", afirmou a professora da UFPE. "Vamos conviver com a perda ambiental durante décadas, porque o combate à poluição no mar tem que ser acudido rapidamente, não em semanas ou dias."
A pesquisadora explicou que a limpeza do óleo é diferente em cada área atingida e que existe tecnologia para reduzir o problema. "Mas não tem como voltar a ser como era. O responsável vai ter que se comprometer com décadas e décadas de prejuízo", disse Mônica.
Animais atingidos pelo óleo
Nove tartarugas e uma ave atingidas pelo derramamento de petróleo foram encontradas, mas a maioria estava morta e não conseguiu ser atendida pelos técnicos. O Ibama confirma que, por enquanto, não há contaminação de peixes e crustáceos ao longo do litoral nordestino.
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Cartões-postais afetados
O óleo mancha cartões-postais do Nordeste, como a Praia do Futuro, no Ceará, e Maragogi, em Alagoas, e deixa o setor turístico da região em alerta. "Como você vai atrair visitantes para uma região que está sendo afetada por uma substância química?", lamentou o presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo, Elzário Pereira. "O turista é atraído principalmente pelo litoral do Nordeste. Apesar de outros atrativos, o sol e a praia são os mais fortes. Certamente acontecerão cancelamentos de viagens", disse.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) recomendou que a coleta do produto seja feita com ferramentas específicas para evitar contato direto com banhistas.
A medida é "preventiva contra irritações e processos alérgicos", indica o documento sobre o piche, que provoca reações adversas no corpo, especialmente na superfície da mão, nos olhos e na boca.
Para a professora Mônica Costa, a melhor solução é manter distância do produto, isolando as praias até conseguirem informações mais complexas sobre a substância. A fim de preservar a vida e a saúde das pessoas, é importante não tomar banho, pescar ou comer nas praias afetadas, diz ela.
A Petrobras descartou a hipótese de a substância ter sido produzida ou comercializada pela companhia, mas afirmou que está cooperando para a limpeza das praias. Em nota, o Ibama disse que mais de 100 pessoas trabalham na limpeza das praias durante a semana.