Em Olinda, 484 anos de história se resumem a poucas horas de passeio

Dados da Empetur confirmam que 85,11% dos visitantes de Olinda são excursionistas e passam menos de três horas na cidade
Mona Lisa Dourado
Marília Banholzer
Publicado em 24/11/2019 às 7:41
Dados da Empetur confirmam que 85,11% dos visitantes de Olinda são excursionistas e passam menos de 3h na cidade Foto: Foto: Bobby Fabisack/JC Imagem


Olinda ostenta o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco desde 1978, mas seu potencial turístico tem se resumido ao Carnaval. Os receptivos turísticos reservam apenas um período do dia – manhã ou tarde – para os turistas visitarem uma história de 484 anos. Com poucas horas no roteiro, em dias "normais", os visitantes resumem o passeio a duas ou três igrejas e um ou outro museu.

Foi o caso da chilena Keila Lagos, 32 anos, que conheceu a cidade por meio de uma visita guiada no início deste mês de novembro. "Passamos poucas horas, visitamos alguns pontos. Devemos passar em um restaurante antes de ir embora", disse a chilena, na ocasião.

Dados da Empetur confirmam que 85,11% dos visitantes de Olinda são excursionistas. Apenas 14,43% dorme pelo menos uma noite na cidade. Pelo menos 46% desses visitantes moram no eixo Rio-São Paulo. Entre os estrangeiros, o argentinos prevalecem (47,9%) seguidos pelos franceses (10,26%). O patrimônio histórico/cultural de Olinda é o principal chamariz da cidade e representa 76% do fator decisório para escolher fazer turismo pelas ladeiras olindenses.

Por causa da distância de apenas 8 km, nós somos como um ponto turístico do Recife

João Luiz, secretário de Turismo de Olinda

Mas apesar de Olinda também ostentar o título de 1ª Capital Brasileira da Cultura, não há muitas atividades culturais voltadas ao turista durante a semana. Aos domingos, uma ação da atual gestão municipal, intitulada Domingo na Sé, estimula música e dança no Alto da Sé. O famoso ponto turístico, por sinal, está com o ordenamento urbano em dia. Barracas de artesanato e das tapioqueiras estão padronizadas, dando um ar de organização.

No entanto, placas de orientação turística sofrem com o desgaste do tempo. Estão pichadas ou apagadas na Praça Laura Nigro, no Mosteiro de São Bento e no Mercado da Ribeira, entre outros pontos. De acordo com o secretário de Patrimônio, Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Olinda, João Luiz, as placas são alvo de um projeto que aguarda liberação de recursos do Ministério do Turismo. Enquanto isso, o visitante não consegue ler as informações históricas.

Por causa dessa "desinformação", turistas recorrem ao apoio de guias nativos que oferecem seus serviços pelas ladeiras históricas. No primeiro dia de passeio em Olinda, o casal francês Rosale e Nicolas Germain já havia decretado: "Contrataremos um guia. Olinda tem muita história, sentimos que sem apoio profissional, perdemos isso."

Placas apagadas dificultam o conhecimento dos turistas sobre o patrimônio histórico da cidade. Foto: Mona Lisa Dourado/JC

Tais "guias" são vistos como um problema para a gestão municipal. Segundo João Luiz, o grupo é formado por cerca de 60 pessoas, sem vínculo com a prefeitura, e que muitas vezes se envolve em situações como extorsão de turistas. "Eles fazem parte de uma associação, que hoje nem tem mais um presidente. Já notificamos para que se organizem e possam ter uma relação institucional conosco", afirma o secretário de turismo.

Entre os principais pontos visitados, estão a Praça do Carmo, Mercado da Ribeira, Igrejas e Alto da Sé. A falta de limpeza e de cuidado com o patrimônio histórico são pontos que mais desagradam o visitante. A paisagem é o item que mais agrada.

Tentativas para agitar a cidade

Para dar mais vida às ladeiras, movimentar os 1.100 leitos de hospedagem na cidade e fazer Olinda ser mais do que Carnaval, a gestão municipal afirma que tem criado eventos para atrair público. É o caso do Festival da Cerveja Artesanal, em setembro, Olinda Motofest, em outubro, Festival da Tapioca, em novembro. Mas nenhum desses é tão atrativo para o turista de fora da Região Metropolitana do Recife quanto aqueles que saíram do roteiro, como a Mimo e a Fliporto.

"Hoje Olinda é um turismo de passagem e, por causa da distância de apenas 8 km, nós somos como um ponto turístico do Recife. Se as agências fizessem o roteiro que propomos ao pé da letra, o turista passaria mais de 8h na cidade. Mas tem agência que traz o visitante para comer bode em Olinda, apesar de nosso polo gastronômico ser voltado para frutos do mar", ressalta João Luiz.

A Prefeitura de Olinda estima que cerca de 20 mil pessoas visitem a cidade por semana. Segundo a Empetur, o turista passa quase seis dias na cidade, com gasto médio diário de R$ 237,71. Já os excursionistas ficam fica apenas três horas em Olinda e gastam R$ 246,56. Para receber melhor esses visitantes, há um ano foi criado o Receptivo Turístico Olinda Aventura, localizado na antiga estação Maxambomba, em frente à Praça do Carmo.

Veículos estilo jardineira levam os turistas pelos principais pontos turísticos. Foto: divulgação

Do local, saem veículos estilo jardineira que levam os turistas pelos principais pontos turísticos. O ingresso custa R$ 20 e permite embarcar e desembarcar quantas vezes quiser durante o dia, das 8h às 17h.

» SEMINÁRIO SOBRE TURISMO

Para debater caminhos possíveis para o turismo, o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) realiza nesta quarta-feira (27) o Seminário Soluções Urbanas – Turismo, que reunirá especialistas, profissionais do trade, empresários, gestores públicos, estudantes e demais interessados no tema. As inscrições para o evento já estão abertas, são gratuitas e podem ser feitas até o dia 26 pelo e-mail eventos@sjcc.com.br ou no site www.jc.com.br/seminariojc. O encontro ocorre das 8h às 12h30, no auditório do SJCC na Rua do Lima, em Santo Amaro.

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