Em Ibagué, cidade nos Andes colombianos na qual James Rodríguez deu início à carreira, todos concordam: a atual estrela da seleção da Colômbia era uma criança obcecada por futebol e videogames.
No terreno baldio do bairro do Jordán, uma centena de crianças da Academia Tolimense de Futebol (ATF) sobem e descem escadas correndo, suando com a umidade e o calor, da mesma maneira que James fazia quando tinha nove anos.
Yul Calderón, primeiro técnico do atual meia de 23 anos, lembra a todas as crianças que o ídolo de cada um deles começou a carreira neste mesmo lugar.
James chegou à popular ATF por meio do padastro e mentor, Juan Carlos Restrepo. Antes, havia tentado inscrição na escolinha de futebol do rico Club Campestre de Ibagué, mas este só aceitava sócios.
Visão periférica, elegância para jogar. Bons passes, boa finalização. Calderón rapidamente viu o potencial do garoto e não se equivocou. Anos depois, a academia ganhou o torneio Pony Fútebol, chave para o futuro de James.
Essa conquista lhe valeu um contrato, aos 12 anos de idade, com o clube colombiano da primeira divisão Envigado FC, trampolim para a carreira internacional no argentino Banfield, no Porto, no Monaco e, finalmente, no Real Madrid, equipe que o fazia sonhar quando jogava videogames.
"O vício de James? Todo mundo sabe... Os videogames, desde pequeno", contou Alberto "Beto" Bustos, companheiro de ATF.
Para James, uma criança tímida que trocou diversas vezes de colégio e que costumava gaguejar, o futebol sempre foi prioridade. Na escola, chegou a chorar quando o professor o fez ler em voz alta um trecho do livro "Cem anos de solidão" na sala de aula, declarou à AFP Nelson Padilla, autor da biografia "James, sua vida".
No bairro de Arkaparaíso de Ibagué, a casa onde James vivia virou uma farmácia. Uma vizinha ainda lembra da avó de James correndo pelas ruas, reclamando do neto, que tinha escapado para jogar futebol na praça. Era uma paixão.
"Quando comemorava aniversário, o bolo sempre tinha formato de um campo de futebol ou de uma bola. O quarto dele era cheio de pôsteres de futebol, todos os videogames eram de futebol. Para esse garoto, tudo era futebol. Eu acho que ele até brincava com a comida, marcando gols com as ervilhas", declarou Calderón.
- Não foi fácil -
James sempre teve a mentalidade de um jogador profissional, afirma o amigo Beto, lembrando que o astro do Real Madrid chegava a aplicar jatos de água nas pernas para melhorar a recuperação, apesar do corpo não precisar.
Beto garante também que, nos tempos livres, James costumava treinar com o padastro nos campos baldios da periferia de Ibagué, hoje repletos de edifícios.
Esse apoio familiar foi determinante para James, que cresceu em meio à violência da sociedade colombiana.
Beto menciona Damián, um amigo que jogou com eles na infância, mas que acabou morrendo junto com a mãe durante um assalto em Ibagué, poucos meses antes da saída de James rumo ao Envigado.
"Não foi fácil para James, não foi de um dia para outro que ele saiu daqui e foi para o Real Madrid. Tudo que ele conseguiu foi conquistado com muito trabalho", elogia.
A querida avó de James ainda vive em Ibagué, mas numa casa mais confortável. Nessa cidade, a cerca de 190 km ao noroeste de Bogotá, o número de escolinhas de futebol cresceu exponencialmente e podem ser vistos cartazes de agradecimento ao ídolo.
É lá também que a mãe de James, Pilar Rubio, dirige a fundação 'Colombia Somos Todos', que oferece ajuda educacional, apoio nutricional e aulas de futebol em ótimos campos de grama sintética a menores carentes.
"James é um exemplo de perseverança e de que com disciplina, tudo é possível", garante Adriana Pulido, cujo filho defende a escolinha de Calderón.
A esperança de todos os colombianos é que James volte a fazer a diferença pela seleção, agora na Copa América de junho no Chile, próximo desafio da equipe 'cafetera', depois da boa campanha na Copa do Mundo no Brasil-2014, onde chegou às quartas de final.