Marco Polo del Nero e Ricardo Teixeira foram acusados nos EUA por corrupção e conspiração, enquanto a Fifa abre investigações contra o presidente da CBF também por violações ao código de ética e pode suspender o dirigente do futebol.
O Departamento de Justiça dos EUA apresentou nesta quinta-feira acusações por corrupção contra mais 16 integrantes da FIFA, entre os quais o atual presidente e o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira. Se condenados, eles estão sujeitos a penas que podem chegar a 20 anos de prisão.
Com as novas denúncias, o número de pessoas apontadas no processo quase dobrou, para um total de 41. O caso teve início em maio, com apresentação das acusações em uma corte do Brooklyn, em Nova York. Até agora, 12 indivíduos e duas empresas de marketing esportivo foram condenados e US$ 100 milhões recuperados pelo governo dos EUA.
Com a acusação confirmada, todos os três cartolas que comandaram a CBF nos últimos 30 anos estão sob suspeita ou serão julgados: José Maria Marin, Del Nero e Teixeira.
Questionado se Del Nero poderia continuar na presidência da CBF, o chefe do Comitê de Auditoria da Fifa, Domenico Scala, apontou para um situação insustentável. "Essa é uma questão muito pertinente", disse.
No total, o Departamento de Justiça dos EUA indiciou um grupo de 16 cartolas, a maioria deles da América Latina. Pela manhã, em Zurique, dois vice-presidentes da Fifa, Alfredo Hawit e Juan Napout, foram presos e aguardam extradição aos EUA. A Justiça, porém, também confirmou o que a reportagem do Estado de S. Paulo havia revelado com exclusividade em 15 de setembro: Del Nero estava sendo investigado pelo FBI.
Agora, ele é acusado formalmente por receber propinas em contratos comerciais envolvendo a CBF. A Agência Estado apurou que o governo americano estava costurando um pedido de cooperação com o Brasil para que Del Nero fosse preso ou pelo menos ouvido pela Justiça.
Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, também foi indiciado por corrupção. Ele é suspeito de ter feito parte de um esquema em contrato com a Nike, ainda nos anos 90.
Mas uma decisão de uma juíza no Rio de Janeiro suspendeu todo tipo de cooperação entre norte-americanos e brasileiros envolvendo o escândalo da Fifa. Com isso, o MP do Brasil ficou impedido de cumprir qualquer solicitação do FBI relacionado com o caso.
Nos EUA, a apuração sobre Del Nero se debruçava sobre pagamentos feitos por José Hawilla, dono da Traffic. A Justiça apontava como o empresário brasileiro foi obrigado a compartilhar um contrato que tinha com a CBF para os direitos da Copa do Brasil com a Klefer a partir de 2011. Para o período entre 2015 e 2022, a Klefer pagaria à CBF R$ 128 milhões pelo torneio, minando a posição privilegiada que Hawilla tinha desde 1989.
Para evitar uma guerra comercial, Hawilla e a Klefer entraram em um entendimento. Mas só neste momento é que a Klefer informou que havia prometido o pagamento de uma propina anual a um cartola da CBF, cujo nome não foi revelado.
Essa mesma propina teria de ser elevada a partir de 2012, quando dois outros membros da CBF entrariam em cena. Um deles é José Maria Marin, preso em Zurique e extraditado aos Estados Unidos. O outro, segundo os americanos, seria Del Nero.
Dois documentos revelados ainda no dia 27 de maio pelo Departamento de Justiça dos EUA confirmavam a suspeita. Del Nero negava que ele fosse a pessoa indiretamente apontada nos informes.
Num deles, um empresário "informa Hawilla que o pagamento de propinas aumentou quando outros dois executivos da CBF - especificamente o Co-Conspirator #15 e Co-Conspirator #16 - pediram propinas também".
O documento explicava que o co-conspirador 15 era membro do alto escalão da CBF e membro da Fifa e da Conmebol - a descrição apenas pode ser preenchida por José Maria Marin. Naquele momento, ele era o presidente da CBF, era membro da Fifa e da Conmebol.
Já o co-conspirador 16 seria membro do alto escalão da Fifa e da CBF. Nesse caso, apenas Del Nero mantinha um cargo na CBF (vice-presidente) e na Fifa (membro do Comitê Executivo).
"Hawilla concordou em pagar metade do custo da propina, que totalizava R$ 2 milhões por ano, para ser dividido entre Co-Conspirator #13, Co-Conspirator #15, e Co-Conspirator #16", indicou o indiciamento do empresário.
O mesmo caso é contado no documento que serve de base para o indiciamento de José Maria Marin e, neste caso, o nome do ex-presidente da CBF é apresentado. No indiciamento, a Justiça traz até mesmo um diálogo entre Marin e Hawilla, em que o cartola insiste que o dinheiro precisa ir para ele também. A reunião gravada ocorreu nos EUA em abril de 2014.
No documento de maio que cita Marin, Del Nero não é citados nominalmente na acusação. Mas a Justiça explica que um "co-conspirador 12" teria também recebido parte da propina. Esse co-conspirador 12 seria um "alto funcionário da Fifa e da CBF". Uma vez mais, apenas Del Nero se enquadra nessa descrição.