Jatos, carros e motoristas privados, roupas de luxo, contas exorbitantes para flores e falta de transparência. A descrição poderia ser de um ex-diretor da velha Fifa, acusado pelo mundo de corrupção, nepotismo e de não atender aos interesses do futebol. Mas, na realidade, trata-se de uma descrição interna sobre o estilo de administração de Gianni Infantino, o homem que foi eleito no final de fevereiro para a presidência da entidade e que prometia uma reforma completa.
Num informe de 11 páginas do dia 23 de maio, um delator interno enviou para a auditora da Fifa, Sindisiwe Mabaso-Koyana, o que ele acreditava ser irregularidades na gestão. O documento foi revelado pelo jornal Schweiz am Sonntag. Numa cópia do mesmo informe obtido pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, o delator, cuja identidade é mantida em sigilo para sua proteção, aponta que tais atitudes "minam o esforço para fortalecer a Fifa".
Um dos alertas lançados se refere ao fato de Infantino ter aceito viagens em jatos privados, pagos pela Rússia e pelo Catar, em valores que variaram entre US$ 115 mil e US$ 150 mil. Outra viagem sob suspeita foi para Eslovênia, na qual Infantino usou um jato da Uefa. Em resposta, a Fifa explicou que a agenda havia sofrido modificações e que os planos organizados para viagens em aviões de linha tinha sido perdidas. A entidade também rejeita as demais acusações e insiste que o novo presidente tem agido dentro das regras.
Ainda assim, o delator denuncia conflitos de interesse. "Em várias ocasiões, Infantino viajou em jatos privados que não foram organizados pela Fifa e nem o uso de aviões externos foram informados ao departamento de auditoria, como é a regra", aponta a carta. "Trata-se de um risco significativo de conflito de interesse, já que esses voos podem ter sido pagos por confederações, dirigentes de países ou pelos Comitês Organizadores das Copas", alertou.
Segundo o documento, a Fifa ainda teria colocado à disposição de Infantino dois carros. Um para atender ao presidente da entidade e o segundo exclusivamente para sua família. Em março, esse segundo carro custou US$ 20,1 mil e em abril outros US$ 13,8 mil O novo presidente se recusou a usar os motoristas da entidade e exigiu a contratação de outro funcionário externo.
"Considerando que Infantino esteve a maior parte do tempo fora, o tempo do motorista foi usado por sua família, assim como para seus assessores", alertou. O documento ainda traz uma série de gastos questionáveis, colocando em dúvida a palavra de Infantino em mudar a gestão do futebol depois de anos de abusos.
Em um deles, o documento traz recibos de US$ 1,4 mil para a compra de um terno para uma festa da IFAB (a entidade que se ocupa das regras do futebol). A Fifa ainda cobrava US$ 11,6 mil por colchões para a cada do novo presidente, além de uma conta de mais de US$ 800,00 para decorar a residência de Infantino. Um equipamento de ginástica comprado por Infantino e colocado nas contas da Fifa teria chegado a US$ 8,8 mil.
FUNCIONÁRIOS - No informe, o delator ainda traz exemplos sobre como Infantino teria feito trocas de funcionários de alto escalão sem consultar o conselho da Fifa e nem os departamentos que deveriam averiguar o passado dessas pessoas. Conselheiros externos ainda foram contratados, obrigando a entidade a pagar de forma regular noites de hotel em Zurique e viagens constantes.
Infantino também tem sido atacado por sua decisão de rejeitar o contrato financeiro que lhe foi oferecido. Em um áudio gravado de um dos encontros, o presidente afirma ter ficado "ofendido" diante da proposta de salário. O pagamento oferecido seria de US$ 2 milhões ao ano. "Eu não assinei o que me foi proposto. Eu não aceitei a proposta. Era uma proposta insultante", disse Infantino na gravação vazada.