Isaquias Queiroz: um rim, três pulmões e dois braços de ouro na canoagem

Físico descomunal rendeu apelido de três pulmões ao canoísta, que almeja ser primeiro brasileiro a conquistar três medalhas de ouro numa mesma Olimpíada
AFP
Publicado em 13/07/2016 às 16:54
Físico descomunal rendeu apelido de três pulmões ao canoísta, que almeja ser primeiro brasileiro a conquistar três medalhas de ouro numa mesma Olimpíada Foto: Foto: AFP/Arquivos / USMAN KHAN


Apelidado de "Sem rim" após uma ablação parcial, ele logo passou a ser conhecido como "Três pulmões" na canoagem de velocidade: com seu físico descomunal, Isaquias Queiroz almeja três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 2016, o que seria um recorde para um brasileiro.

A brincadeira veio quando "eu perdi um rim aos 10 anos depois de cair de uma árvore", conta à AFP. "Um ano depois comecei a canoagem. As pessoas achavam que não daria certo, porque achavam que seria uma deficiência. Mas acabei mostrando para o Brasil, para o mundo, que não tem nada de deficiência, não tem nada de problema".

"Então eu acho que implantaram um pulmão a mais em mim durante a operação", diz, aos risos, e garante "nunca deixei essa dificuldade me atrapalhar no meu rendimento na canoagem".

"Nunca deixei ninguém ganhar de mim para depois eu falar: 'Eu perdi porque só tenho um rim'. Não, eu gosto de competir de igual pra igual. O ruim é quando uma pessoa perde para mim e diz: 'Nossa, perdi para um cara que só tem um rim!"

O que poderia ser um impedimento para Isaquias é "uma motivação a mais, de mostrar às pessoas que não existe problema. Quando pessoas olham e falam: 'O cara tem um rim e conseguiu chegar a esse nível, e eu que tenho dois nunca nem saí de casa, então vou começar a tomar iniciativa, vou fazer algum esporte, vou fazer uma academia, vou me cuidar melhor'".

Calendário modificado 

"Todo mundo diz que eu sou uma das maiores chances de o Brasil ganhar medalhas de ouro", afirma.

"Eu não vejo isso como pressão, mas como um incentivo. Todos os dias alguém me diz que quer me ver vencer, isso me faz me sentir mais motivado, com mais vontade de treinar para ganhar três medalhas. Seria histórico para o Brasil".

Os últimos três anos, nos Mundiais de Duisburg, Moscou e Milão, ele colecionou seis medalhas: três de ouro e três de bronze.

Nascido no estado da Bahia, Isaquias está confiante para os Jogos Olímpicos no Rio, também porque o calendário olímpico da canoagem foi modificado, espaçando as provas, a serem realizadas de 15 a 20 de agosto na lagoa Rodrigo de Freitas.

Segundo a imprensa brasileira, a mudança teria sido feita sob pressão da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCA) para beneficiar Isaquias, graças a uma certa tradição informal no país de acolhimento dos Jogos.

"Remar em C1 1000 e em C2 1000 um dia após o outro é muito cansativo", observa o atleta. "Essa mudança me dá a oportunidade de ganhar três provas. Depois, Jesus Morlan (seu treinador espanhol) me preparou mais para o C1 200. Eu descobri que tinha potencial nesta distância, e já ganhei a medalha de bronze nesta prova no Campeonato Mundial em Milão no ano passado".

Revolta e capotagem

O ano de 2015 foi o de todas as emoções para o jovem. "O melhor momento foi quando ganhei o ouro no C2 1000 com Erlon Silva e bronze no C1 200 na Itália, eu surpreendi todos os meus adversários", lembra ele.

"E sem falar em ser reconhecido como o maior atleta do Brasil em 2015. Pra você chegar a esse nível, isso não é brincadeira. Eu fiquei muito feliz por esse reconhecimento", declarou em referência ao prêmio de melhor atleta do ano.

Já sobre o pior momento, "foi quando eu capotei de carro, indo buscar o meu irmão no aeroporto", conta. "Acabei saindo da pista e capotando. Graças a Deus, não sofri nada, nenhum arranhão. Então pude voltar a treinar e me concentrar em meus objetivos nos Jogos Olímpicos".

Durante um evento-teste na Lagoa, em setembro de 2015, ele também liderou a revolta dos canoístas brasileiros contra a CBCA, acusada de "desrespeito", sobretudo financeiramente.

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