Mais de 150 milhões de euros gastos, 40 deles para tirar o zagueiro Leonardo Bonucci da Juventus: O Milan, comprado na temporada passada, é um dos grandes atores na janela de transferência europeia, apesar da situação financeira delicada do clube. Pelo menos no mercado de transferências, o gigante italiano está reencontrando seu passado ilustre.
O Milan já contratou sete jogadores de renome, como o meia turco Hakan Calhanoglu (Bayer Leverkusen), o centroavante português André Silva (Porto) e o zagueiro argentino Mateo Musacchio (Villarreal). Por último, buscou um 'líder' e trouxe Bonucci, recente finalista da Liga dos Campeões com a Juventus, anunciado nesta sexta (14).
Como explicar tal atratividade, num momento em que o Milan, perdido no meio da tabela do Campeonato Italiano há quatro anos (6º em 2017, 7º em 2016, 10º em 2015, 8º em 2014), não disputará a Liga dos Campeões na próxima temporada? Os Rossoneri terão até que passar por duas fases preliminares se quiserem disputar a fase de grupos da Liga Europa, segunda competição continental.
Primeiramente, isso se explica pelo fato do Milan continuar sendo um clube histórico, o segundo maior clube europeu em números de conquistas na Champions, atrás apenas do intocável Real Madrid (12 contra 7). Impossível contar todos os jogadores lendários que, dos holandeses Marco van Basten ou Ruud Gullit, passando pelos brasileiros Cafu e Kaká aos italianos Paolo Maldini ou Franco Baresi, vestiram a famosa camisa rubro-negra.
Outro fator atrativo é o Campeonato Italiano e sua média de 2,95 gols por rodada (maior média da Europa), que continua sendo uma referência europeia, apesar do declínio recente de clubes como o próprio Milan ou a Inter de Milão.
O maior motivo, porém, é a troca de proprietário. O chinês Li Younghong, novo dono, tem grandes ambições e quer seu clube na Liga dos Campeões no ano que vem, seja pelo título da Liga Europa, seja por terminar entre os quatros primeiros colocados do Campeonato Italiano. A única dúvida é sobre a solidez financeira do novo dono do clube, que por 30 anos pertenceu ao ex-mandatário italiano Silvio Berlusconi. Li Yonghong precisou apelar para a ajuda do fundo de investimento americano Elliott para reunir a soma necessária para a compra do clube, e um empréstimo de 300 milhões de euros trouxe dúvidas a respeito do verdadeiro poder financeiro do novo chefão.
Marco Fassone, administrador financeiro do clube lombardo, garante que tudo está sob controle. "Tendo em vista os investimentos importantes, a temporada 2017-18 trará novamente perdas significativas e o senhor Li lidará com isso através de um aumento de capital", explicou recentemente ao jornal Corriere della Sera. "A aquisição do Milan custou mais de um bilhão de euros. Me parece difícil que isso poderia ser feito sem um levantamento financeiro".
Segundo a imprensa italiana, o clube precisa apresentar até novembro seu novo projeto à Uefa para tentar encontrar um acordo sobre fair-play financeiro, que proíbe aos clubes se endividarem demais. Ao mesmo tempo, o site especializado Calcio et Finanza afirma que o Milan concluiu as últimas três temporadas com pesadas perdas financeiras, com déficit de 75 milhões de euros no último ano.
Neste contexto, ficar de fora da Liga dos Campeões novamente seria um tropeço esportivo e uma ferida dolorosa financeiramente. Fassone afirmou que seu "trabalho é justamente fazer com que o investimento não seja aniquilado por um resultado ruim". O dirigente, porém, reconheceu que "si ficarmos de fora da Liga dos Campeões dois anos consecutivos, terei algumas preocupações a mais". E a janela de transferência recente ficará com cara de aposta errada.