De luvas penduradas, o ex-goleiro Nilson, que subiu para a Série A com Santa Cruz, em 1999, e foi campeão Estadual com Náutico, em 2004, quer dar o próximo passo: começar a carreira de treinador. Recifense de coração e capixaba de nascimento, Nilson conversou o Jornal do Commercio, sobre seus planos para o futuro e, claro, sobre seu passado de sucesso em Pernambuco.
Foram momentos diferentes. No Santa Cruz tive o acesso (para a Série A), no Náutico o título (Estadual). Consegui virar ídolo das duas torcidas. Certamente passaram a fazer parte da minha história, da minha vida profissional. Serei eternamente grato a Deus por ter me dado a oportunidade de representar esses clubes e ter marcado meu nome na história deles.
Com o Santa, foi o jogo contra o Bahia em casa (quadrangular final da Série B de 1999), quando ganhamos por 2x1. Digo que 99% da nossa subida de divisão foi naquele dia, naquela vitória. Nós não podíamos perder aquele jogo. Foi um divisor de águas para alcançarmos nosso objetivo. Com o Náutico, foi o último jogo, contra o Santa Cruz em 2004, quando veio o título Estadual (3x0).
Não é fácil você administrar um misto de sentimentos de saber que, pouco tempo atrás, você representava aquele clube (Santa) e naquele momento você estava jogando contra ele e teria que dar tudo para vencer. Mas essa é a nossa vida e temos que saber separar as coisas. Naquele momento o Santa era passado e eu tinha que honrar as cores do Náutico.
Vivi uma situação, no jogo de volta no Arruda em 2004, quando eu entrei em campo e fui para o gol, a torcida ficou gritando “ô ô ô, o Nilson é tricolor...”. Nem acenei com a mão e não agradeci naquele momento, porque era difícil (ele era o camisa 1 alvirribro). Infelizmente existem pessoas más à espera de alguns acontecimentos para se aproveitarem disso. Se eu faço um aceno ou agradeço a torcida e jogo mal ou o Náutico perde, as pessoas usariam isso contra mim. Não pude agradecer, mas esse gesto ficou gravado no meu coração.
É com muita tristeza que eu vejo esse cenário de clubes como Santa e Náutico jogando a Série C. Não tenho dúvidas que não é uma divisão compatível com os clubes. Acho que eles merecem estar, no mínimo na Segunda Divisão, por tudo que eles representam no cenário nacional, pois são clubes que tem história no futebol, de grandes e apaixonadas torcidas.
Foi um conjunto de fatores que levaram os clubes a estarem nessa posição. Mas isso não compete a mim, porque ficar apontando o dedo para as pessoas é muito fácil. Mas a verdade é que muitos passaram por lá e ninguém conseguiu fazer o trabalho que deveria ser feito. Talvez se eu estivesse lá, teria feito o mesmo, teria errado como eles erraram.
A ida a Portugal foi uma experiência fantástica. Tive êxito no Vitória de Guimarães, me tornei um dos capitães do time e ídolo da torcida. Sou o segundo goleiro que mais tem jogos pelo clube. Foram sete anos de muita alegria. A ida ao Irã já foi um choque cultural e linguístico. O Persépolis é o maior clube do país. Me tornei ídolo lá, também. Fui o goleiro menos vazado por dois anos consecutivos. No primeiro ano, fui eleito o melhor estrangeiro do campeonato. Voltei para Portugal com 39 anos e fui jogar no Moreirense, depois joguei mais um ano no União da Madeira, aos 41 anos, e me aposentei.
Nesse tempo eu estive estudando. Fazendo os cursos da Uefa para treinadores. Fiz estágios, que eram obrigatórios. E comecei quando ainda estava jogando, porque os cursos são muito extensos. Já estou preparado, mas continuarei me especializando para esse novo desafio. Além disso, foram mais de 20 anos de carreira. Eu passei por todo tipo de treinador, então fui acumulando o que fazer e, também, o que não fazer.
Quem para de se preparar, para no tempo. O mundo de dez anos atrás não é o de hoje, e daqui a dez anos vai ser diferente. Quem é bom hoje, se não continuar se especializando, não será bom mais, fica para trás. O mercado é muito exigente. Eu não quero ser “mais um treinador” no mercado. Eu quero ser “o treinador”.