Discriminação não impede torcedores LGBTs de irem ao estádio

Amor pelos times do coração e o desejo de resistir ao preconceito são mais fortes para o rubro-negro Adriann de Araújo, o tricolor Zito Júnior e a alvirrubra Alice do Monte
Luana Ponsoni
Publicado em 01/09/2019 às 7:00
Amor pelos times do coração e o desejo de resistir ao preconceito são mais fortes para o rubro-negro Adriann de Araújo, o tricolor Zito Júnior e a alvirrubra Alice do Monte Foto: Léo Motta/JC Imagem


A paixão pelo futebol teve diferentes vetores nas histórias do rubro-negro Adriann de Araújo, do tricolor Zito Júnior e da alvirrubra Alice do Monte. Entre os três, porém, a percepção de que os estádios estão longe de ser um ambiente de respeito ao público LGBT é a mesma. Apesar do desconforto pela hostilidade vinda das arquibancadas, eles nunca se privaram do direito de comparecer e empurrar os times do coração.

“A população LGBT já é acostumada a resistir. Então, é mais um lugar em que a gente resiste. Como todos os outros espaços que frequentamos: trabalho, faculdade. E não ia ser diferente no estádio. Então, eu nunca vou deixar de ir a campo por causa disso. Pelo contrário. Eu venho e demarco o meu território”, declarou Zito Júnior.

A relação de amor do bancário com o time do Arruda começou desde criança, por influência do pai. Algo totalmente diferente aconteceu com o socioeducador Adriann de Araújo. Rubro-negro “doente” como se diz por aí, ele descobriu o amor pelo Sport em meio as circunstâncias de sofrimento. Com três irmãos e um pai torcedores do Santa Cruz, Adriann era obrigado a se unir aos quatro para assistir aos jogos do tricolor. “Eu ficava naquela indignação. Como eu já passava muita repressão e preconceito com o meu pai, isso acabou desencadeando uma paixão pelo Sport. Quando eu vi o meu primeiro clássico, eu disse: ‘não vou torcer pelo time do meu pai’. É amor. Ou você ama ou não. Além do embate com o meu pai. Mas foi amor”, contou.

Sem qualquer interferência da família, Alice do Monte contou com a influência de um ex-cunhado para escolher o Náutico como time do coração. Ela faz o que está ao seu alcance para seguir o Timbu em todas as partidas, inclusive fora do Recife. Mas evita demonstrações de carinho com a namorada nos estádio. “No fim, somos vistas como outros homens ali naquele meio. Eu sou o tipo de torcedora que dá opinião, critica, xinga. Então, quando me veem, pensam que eu estou me comportando como homem. Outros não escondem o espanto por eu ser mulher e estar falando coisas pertinentes sobre futebol”, contou.

AVANÇO

Os três viram a determinação do STJD, que pode punir os times com a perda de três pontos por comportamento homofóbico das torcidas, como um avanço. Apesar de acharem que nada precisaria acontecer aos clubes se o ambiente fosse de maior tolerância e respeito. “A gente não precisaria disso se todos soubessem respeitar essa diversidade. Se todos respeitassem a nossa orientação sexual como natural. A gente não escolhe quem vai amar. Quando a sociedade aprender a viver e respeitar essa diversidade, não precisaremos brigar por leis que garantam nossa sobrevivência, o nosso lazer e o nosso esporte”, opinou Adriann.

TAGS
Náutico Sport santa cruz homofobia
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory