Gilmar Dal Pozzo

Apelido de Felipão, família humilde e perda da mãe: Gilmar Dal Pozzo além do futebol

Em entrevista exclusiva, Gilmar Dal Pozzo abriu o coração e contou detalhes desconhecidos de sua vida

Fernando Castro
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Fernando Castro
Publicado em 04/08/2019 às 10:38
Felipe Ribeiro/JC Imagem
Em entrevista exclusiva, Gilmar Dal Pozzo abriu o coração e contou detalhes desconhecidos de sua vida - FOTO: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Dos 49 anos de vida de Gilmar Dal Pozzo, pelo menos 30 deles são dedicados ao futebol. Como jogador, a carreira profissional começou em 1990 e durou até 2007. Um ano depois de ‘pendurar as luvas’, já iniciou a trajetória como treinador. De família humilde, o atual técnico do Náutico nasceu no interior de Santa Catarina, mas tem forte identificação com o estado do Rio Grande do Sul. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio e à Rádio Jornal, Gilmar Dal Pozzo abriu o coração e contou detalhes desconhecidos de sua vida: paixão pelo vôlei, apelido dado pelo pai e triste perda da mãe.

“Eu fui uma pessoa de família muito humilde, pobre, que jogou futebol até os 16 anos descalço, na rua, onde não tinha grama. Depois eu fiquei apaixonado pelo vôlei, gostava muito, até aos 18 anos jogava vôlei. Quando eu dei sequência, fiz a escolha pelo futebol e quando comecei, eu jogava de lateral esquerdo. Por acaso um dia faltou goleiro e eu fui para o gol, acabei impressionando pela estatura e fiquei. Peguei gosto, comecei a jogar no gol, mas muito tarde, isso já com 18 para 19 anos”, revelou.

A tranquilidade, seriedade e calma são características já conhecidas de Gilmar Dal Pozzo, jeito que o rendeu até um apelido de ‘padre’ no futebol pernambucano. Mas o seu pai, o senhor Artelino, de 84 anos, o chama de uma maneira diferente: Felipão, em referência ao treinador multicampeão pelo Brasil. O apelido é pela semelhança entre os treinadores. Além da profissão, eles têm em comum o fato de terem jogado no Caxias e a relação com o Rio Grande do Sul.

“É legal, porque eu tenho uma identificação e uma amizade mais com o Tite, é meu padrinho de casamento. Talvez por essa expressão mais fechada minha, o meu pai me apelidou de Felipão. eu fico muito orgulhoso, porque o Felipão também é da serra gaúcha, eu sempre admirei o trabalho dele. É uma referência que é bom ser comparado, fico feliz, é uma lembrança que trago com carinho”, destacou Dal Pozzo.

PERDA DA MÃE

Em 2012, Gilmar Dal Pozzo teve que lidar com a perda da mãe. Treinando o Veranópolis, o filho da dona Itelvina iria enfrentar o Internacional, comandado pelo técnico Tite, pelo Campeonato Gaúcho. Os dois treinadores mantém uma amizade há cerca de 30 anos. Horas antes dois amigos se enfrentarem, a mãe de Dal Pozzo sofreu um infarto e veio a falecer. A morte não interferiu na partida, já que Gilmar só ficou sabendo do ocorrido após o jogo.

“A gente foi jogar no Beira Rio e horas antes ela veio a falecer. Minha esposa e os médicos não me avisaram, ela teve um infarto. Eu fiz o jogo normal, depois veio a notícia triste. Eu me emociono muito, porque semana passada morreu um torcedor do Náutico, por infarto também, exatamente aquilo que aconteceu com a minha mãe. De tanto ela torcer pelo filho, ela era hipertensa, e no jogo contra o Internacional ela se emocionou, estava o Tite de um lado, que ela tinha amizade, e do outro lado o filho dela, ela se emocionou e veio a infartar e falecer”, contou.

Confira abaixo os principais pontos da entrevista.

INÍCIO NO FUTEBOL

Eu fui uma pessoa de família humilde, pobre, que jogou futebol até os 16 anos descalço, na rua, onde não tinha grama. Tudo isso aconteceu no meu início e depois eu fiquei apaixonado pelo vôlei. Quando eu dei sequência, fiz a escolha pelo futebol e quando comecei, eu jogava de lateral-esquerdo. Por acaso um dia faltou goleiro e eu fui ao gol, acabei impressionando pela estatura e fiquei. Comecei em um time semi-amador do Rio Grande do Sul, até ser contratado pelo Caxias.

TREINADOR

Quando fui para Portugal, em 2000, já tomei a decisão de ser técnico. Fiz cursos de oratória, dicção, estágios. Quando eu parei em 2007, em 2008 o Veranópolis me abriu as portas e aí comecei um trabalho muito bom para um início de carreira. Fiquei quatro anos no Veranópolis com trabalhos bons no interior do Rio Grande do Sul. Depois fui para a Chapecoense, onde aconteceu minha ascensão. Peguei o time na Série C em 2012, subimos para a Série B e depois para a Série A.

UM OUTRO LADO

O lado social. As pessoas não tem essa informação da parte social e do hobby. Gosto de andar a cavalo e tenho um no Rio Grande do Sul. Então quando eu tenho oportunidade de ir para lá ando muito a cavalo. Fora do dia a dia do futebol, faço muita atividade física, vou quase que todos os dias para a academia, ando de bicicleta, gosto de correr também. Uma vida normal fora do futebol, que precisa para manter uma vida saudável, com saúde.

EM CASA

Quando eu estou trabalhando, eu sou obcecado, inquieto. Foco muito no próximo adversário e as estratégias vêm de madrugada. Duas, três horas da manhã eu acordo, faço anotações, para no dia seguinte colocar em prática no trabalho. Mesmo quando eu estou parado, sem trabalhar, eu não consigo e desligar 100%. Eu acompanho e tenho que acompanhar todos os tipos campeonatos. É o nosso trabalho, o aprendizado é todo dia. Para praticar quando a gente está parado tem que ficar executando, indo a campo e vendo jogos pela televisão.

FAMÍLIA

Nós tivemos as duas filhas muito cedo. Quando eu jogava, não abria mão de levar a família junto, porque quando atleta eu tinha estabilidade. Todos os meus compromissos, meus contratos como atleta eu cumpri, então me programava para os colégios das minhas filhas, inclusive quando eu joguei aqui no Santa Cruz, minha família veio e me acompanhou. Depois o tempo foi passando. Quando comecei a ser treinador, elas já estavam crescidas, fazendo faculdades, e a partir daí a vida delas seguiu. Hoje minha esposa me acompanha e eventualmente, minhas filhas vêm me visitar.

NÁUTICO

Hoje eu estou muito mais confiante nessa equipe, porque ela me dá essa condição de maturidade. Nunca tive dúvida em relação à qualidade desse grupo de jogadores. Se a gente estivesse numa Série B, estaríamos no meio da tabela, com certeza. O time precisava ter uma continuidade e consolidar o trabalho, estava oscilando muito, porque ficaram sequelas da perda do Estadual e da Copa do Nordeste. Isso requer um pouco de tempo, para recuperar a confiança. Hoje temos uma equipe mais forte, mais consolidada, mais madura e sabendo o que quer dentro de campo.

BASE

Uma base muito boa, diferente da primeira vez que eu passei aqui em 2015, que não tinham muitos jogadores revelados. Hoje nós temos jogadores prontos. O Thiago numa condição boa, temos jogadores pedindo passagem, como o Wagninho, que eu gosto muito, certeza que esse vai jogar em time grande, não tenho a menor dúvida, pelo nível de concentração, qualidade, estatura, condição física, técnica e tática. Então é uma base muito boa, mas tem que saber aproveitar.

ACESSO

A gente tem que ir com força e de fato fazer valer essa camisa que tem muita tradição. É dentro de campo, com merecimento, se não for assim eu também nem quero, não vai ter graça, eu falo para os atletas, se quiser vencer os jogos, subir, conquistar o título, vai ser por merecimento. E não venham me convencer que é diferente, sorte é só quem joga na loto, joga uma vez e aposta. Eu tenho passado diariamente para os atletas fazerem por merecer o resultado.

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