No Recife para lançar o livro Viva Como Se Estivesse de Partida, o jornalista Rafael Henzel foi o convidado do Programa Ponto de Entrevista, da TV JC, na última quarta (12). No bate-papo, falou sobre o desastre da Chapecoense na Colômbia, onde foi um dos seis sobreviventes, relatou o carinho do público com a sua história e também comentou o duelo entre Sport e Chape, nesta quinta (13), na Arena de Pernambuco.
A nossa vida é marcada por momentos difíceis. No nosso caso foi ao extremo, com a maior tragédia do esporte mundial. O livro relata como fui trabalhar 40 dias depois e como encarei (a vida). Dos momentos mais felizes aos mais tristes. Da comoção mundial até começar a me recuperar e voltar a narrar jogos.
Imagine um acidente aéreo em que você se encontra no meio do mato. Lá, tive uma segurança tão forte que não pensei em morrer. Mas não foi só o Rafael, mas uma força muito maior que me tranquilizou. Descobri que estava vivo e consciente, e isso foi me ajudando muito. A fé ajuda, mas é a nossa disposição de acreditar de perseverar. O livro é um relato daquilo que é possível, independentemente do tamanho do seu problema.
Foram seis sobreviventes e 71 mortos. Depois que visitei o local, cheguei a conclusão que não era pra ninguém estar vivo. Caímos a 250 km por hora, ficamos no frio, poderíamos ter sido atingidos por escombros, demoramos para sermos encontrados... Recebi um milagre de Deus.
A palavra é crer. Mas não é só acreditar que Deus vai resolver nossas vidas. Temos que dar um passo também. Aconteceu algo muito forte lá para seis pessoas. Posso dizer que estou 100% e vivendo minha vida plena. Fui vítima em novembro, não sou mais. Sou um jornalista que escreveu um livro e que está trabalhando muito e curtindo a família.
As pessoas se encontram naquilo que está escrito. Me relatam situações e problemas de suas vidas, e isso me traz também uma comoção muito grande. Sempre falo que é importante ser um consolador. A nossa tristeza e pequenas tragédias, independentemente do tamanho delas, tem que ser relatadas para tentar ajudar outras pessoas.
Tenho uma ligação muito forte com o clube. Uso até uma corrente com o símbolo da Chapecoense perto do coração. Estava junto com o time (no desastre). É uma história que vou levar pro resto da minha vida: estive num voo de uma equipe que desapareceu. Mas, apesar da paixão pelo clube, e lá só temos um, diferente daqui do Recife, sempre tento ser justo. Não é falar só o que o torcedor quer, mas ter suas convicções.
(Santa e Sport prestaram homenagens para Henzel no lançamento do livro)
A Chape sabe jogar fora de casa, já fez bons jogos no Brasileiro e tem possibilidade de melhorar. É claro que agora vem o Vinicius Eutrópio (ex-técnico do Santa Cruz), um novo conceito. O campeonato está muito parelho. Com três ou quatro pontos, se entra no G-4 ou se cai no Z-4. Não sei como vai ser a questão da torcida amanhã, mas claro que o Sport vem numa crescente no campeonato. Vai ser um jogo complicado.
O futebol é um mundo paralelo. O torcedor não quer saber se todo mondo morreu em novembro. Uma semana depois vão querer um time forte, que ganhe títulos. A comoção e a dor pela perda foram grandes, mas a cobrança efetiva de que é preciso conquistar alguma coisa. É a cultura do futebol.