Um dos mais importantes jogadores da história do tênis brasileiro, Fernando Meligeni hoje é comentarista. Sempre sincero, o ex-tenista conversou com a reportagem do JC no Rio Open. Lá, falou sobre o nível do tênis no Brasil, criticou o legado das Olimpíadas e rasgou elogios a Pernambuco.
No Brasil, as confederações são muito importantes. Em outros países, os esportes têm federações, mas as coisas andam. Aqui, tudo tem que ter a tal da “chancela”. Para você falar da técnica, tem que passar pela parte administrativa. Enquanto a gente fizer as mesmas políticas, teremos o mesmo tênis de sempre: campeonatos maravilhosos, mas que no final não são revertidos para um grande bem.
Vejo que o nosso tênis não mudou muito nos últimos 20 ou 30 anos. Melhorou em termos de estrutura, com muito mais investimento do que quando eu jogava. Só que a maneira de fazer jogadores é igual. Se você pegar da época do Luiz Mattar (década de 1980) até agora, sempre temos dois ou três entre os 100 melhores do mundo. Hoje temos Bellucci, Monteiro e Rogerinho.
Lembro que fiz uma entrevista pela ESPN com o ministro (do Esporte, Leonardo Picciani), antes da Olimpíada. Ele disse que o investimento não ia mudar, que o governo e as empresas iriam continuar patrocinando o tênis. Não ficaram. Todos os patrocínios terminavam no final de 2016. Bellucci perdeu parceiros, Feijão também. Teliana e Bia ficaram quase sem patrocinadores no início do ano. Se eu que estou “fora” já sabia, como é que o Ministério e o Comitê Olímpico não tomaram conhecimento? O problema é que não querem falar a verdade pras pessoas.
Falo do legado centro olímpico (de tênis) há quatro anos. Quem vai assumir? É um projeto caro, que custa R$ 200 mil por mês. Era preciso ter feito um planejamento para isso. É muito mais importante o pós-olímpico que o próprio evento. O Rio-2016 serviu para as pessoas terem vontade de jogar. O pós-olímpico é para dar condições pra isso.
Na minha cabeça, só quero retribuir o carinho que recebo. Tenho a sorte de ter uma quantidade impressionante de pessoas que gostam de mim. Sou muito grato a ESPN por abrir portas para um novo trabalho. Fico impressionado com garotos de oito ou nove anos que nunca me viram jogar e ficam enlouquecidos comigo.
Há pouco tempo, passei uma semana maravilhosa em Muro Alto. Quando era juvenil, joguei muitas vezes em Recife e Olinda e já fui fazer clínicas de tênis nas duas cidades. Recife é demais.
A primeira desculpa é que tênis é elite. Mentira. Viajo muito para clínicas no Brasil inteiro. Sempre falo que não importa a cidade, mas a estrutura que se tem. Bellucci e Monteiro são provas. Um é de Tietê (SP) e outro do Ceará. Recife dá pra ter um grande jogador de tênis? Lógico que dá. Vocês tem Davi (Barros, ex-jogador), que jogou comigo e tem uma baita academia (Squash Tennis Center). É só você trazer um técnico bom, que fomente os outros e o esporte.