Sheilla Castro detona atualização do ranking da CBV

Jogadora pretende voltar às quadras em 2018, após ano sabático
Luana Ponsoni
Publicado em 23/03/2017 às 16:20
Jogadora pretende voltar às quadras em 2018, após ano sabático Foto: Divulgação


Motivo de discórdia no vôlei nacional, as regras do ranking da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) para a Superliga Feminina foram atualizadas para a temporada 2017/2018, mas continuam sendo alvo de críticas. Dessa vez, quem detonou o ranqueamento de jogadoras e as mudanças feitas foi a bicampeã olímpica Sheilla Castro. Ela criticou o fato de a pontuação máxima, por equipes, ter sido abolida - atualmente os times só podem chegar a 43 - , mas a limitação para que os clubes tenham duas jogadoras com a pontuação máxima, que é de sete, ter permanecido.

“Sempre fui contra. São coisas que só prejudicam. É discriminação, somos punidas no nosso país por sermos as melhores. Agora ficou nítido, com o ranking valendo só para as jogadoras de sete pontos. Terem excluído o ranking das outras é ótimo, mas deveria ser para todas. Assim, abre espaço para estrangeiras, desvaloriza as principais jogadoras do país. A Superliga está nivelada por baixo, e vai ficar pior”, disparou.

A CBV se defendeu, afirmando que a decisão foi aprovada em votação, com a presença, inclusive, de representantes da comissão de atletas. Sheilla rebateu garantindo que o voto da comissão não tem poder para alterar o resultado. A oposta está em um ano sabático e só programa retornar às quadras em 2018.

Atualmente, nove jogadoras do Brasil têm a pontuação máxima do ranking da CBV, incluindo as pernambucanas Dani Lins e Jaqueline Carvalho. Jaque, inclusive, teve problemas para se recolocar no mercado nacional depois de realizar o sonho de ser mãe em função do ranking. Atualmente ela defende o Minas. Já Dani está no Osasco. As demais são Fabi Claudino, Fernanda Garay, Gaby, Nathália, Sheilla, Tandara e Thaisa.

Indignadas pela manutenção da regra que determina limite de jogadoras com pontuação máxima nas equipes, elas divulgaram uma carta aberta.

Confira na íntegra:

"Nós, Danielle Rodrigues Lins, Fabiana Marcelino Claudino, Fernanda Garay Rodrigues, Gabriela Braga Guimarães, Jaqueline Maria Pereira de Carvalho Endres, Natália Zílio Pereira, Sheilla Castro de Paula Blassioli, Tandara Alves Caixeta e Thaisa Daher Pallesi, atletas brasileiras de voleibol, prejudicadas pelo ranking adotado pela CBV – Confederação Brasileira de Voleibol – repudiamos o regulamento do ranking votado em 14/03/2017 e imposto para a temporada 2017/2018.

O ranking, que já foi alvo de críticas em diversas oportunidades, é uma anomalia que só existe no Brasil, sob o pretexto de se criar equilíbrio na competição. Porém, nunca houve equilíbrio, basta verificar as poucas mudanças nos vencedores da Superliga dos últimos anos. O problema do voleibol brasileiro é estrutural e não adianta tentar corrigi-lo com um ranking que cria um equilíbrio artificial e teórico.

O ranking sempre criou problemas às atletas, principalmente àquelas com maior pontuação. As limitações impostas pelo regulamento, que por si só, vão de encontro ao interesse das atletas, que são verdadeiras protagonistas dos eventos esportivos, ainda são inconstitucionais, tendo em vista que impõem restrições à liberdade de trabalho das atletas, ao direito de escolha de cada uma, ao livre mercado e força a redução dos salários, o que é inconcebível. É importante lembrar, também, e lamentar, que a opinião das atletas nunca foi ouvida, sequer levada em consideração nas decisões que envolvem o ranking.

A própria CBV criou a chamada “Comissão de Atletas”, mas esta comissão ligada à própria instituição tem apenas um voto na decisão do ranking. Não é razoável. Se há cerca de 10 clubes votantes, as atletas nunca terão chance contra os demais. Repetimos: não é razoável. Quando a vontade das atletas prevalecerá? Da forma como as coisas estão, jamais!

A situação ficará ainda pior na temporada 2017/2018, pois tomamos conhecimento que o novo formato do ranking pontuará apenas nove atletas, as mesmas nove que são pontuadas com sete pontos (pontuação máxima) na temporada atual. Apenas nós estaremos sujeitas às restrições. Nós não poderemos ser contratadas livremente pelas equipes, pois cada time poderá ter apenas duas das nove, ao contrário das demais atletas que serão livremente escolhidas, o que configura clara discriminação e desrespeito.

Se assim as coisas permanecerem, nós seremos prejudicadas sob o frágil e teórico argumento de “equilíbrio do campeonato”. Nós, que defendemos a Seleção Brasileira, que nos destacamos, agora seremos punidas por isso. Não é razoável. Aliás, não há lógica nisso. Queremos ser tratadas de forma igual, sob pena de nos socorrermos ao Poder Judiciário, tendo em vista a clara e manifesta afronta a princípios constitucionais.

Alem disto, as estrangeiras não serão pontuadas, o que diminui ainda mais as opções das nove brasileiras discriminadas. Vale destacar que em 14/03/2017 a própria CBV divulgou a “Seleção da Superliga” e nela há três estrangeiras: Destinee Hooker, Alexandra Klineman e Branda Castillo. As três são atletas de alto nível e serão escolhidas livremente pelas equipes para a próxima temporada, ao contrário das nove brasileiras pontuadas. Ademais, nesta “Seleção da Superliga” há apenas uma atleta das nove presentes no ranking. Isto mostra que o sistema do ranking não tem critérios claros e não cumpre sua suposta função.

Diante do exposto, exigimos que a CBV tome providência no sentido de extinguir o ranking e parar de interferir no direito de escolha de cada atleta. As atletas precisam ter uma voz independente da confederação e ter peso igual nas votações do regulamento. Se de um lado os clubes pagam os salários, de outro são as atletas dão o espetáculo e atraem o público.
Aguardamos um posicionamento da CBV em até 5 (cinco) dias corridos. Estamos abertas a discutir o assunto para resolver o impasse".

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