FERNANDO DE NORONHA – Gustavo trabalhava no mercado financeiro, na bolsa de valores de São Paulo. Paloma era pedagoga, também na maior cidade do Brasil. Mas não estavam felizes com o modo de vida, com o corre-corre diário. Então decidiram trocar o apartamento já montado por um barco. Um veleiro oceânico. Agora vão aonde querem. Curtindo, levando turistas ou participando de regatas, como foi a Refeno.
A bordo do Zenith, um monocasco de 45 pés, o casal chegou em 12º, após quase 35 horas de travessia. Juntamente com dois amigos e com a pequena Katarina, filha de três anos que levou o prêmio de tripulante mais nova da 29ª edição da Refeno.
A regata, na verdade, é apenas um pedaço do novo sonho. Depois de mudar completamente o modo de viver, largar os empregos formais e se aventurar pelos mares, agora a família Miglio quer dar a volta ao mundo. Próxima parada: Caribe.
“Estamos subindo a costa brasileira. A intenção é ir para o Caribe. Se não der agora, voltamos para a Bahia e esperamos a próxima temporada. Depois, Europa. Queremos fazer o Pacífico”, destaca Gustavo, de 44 anos.
Há seis anos, o casal trabalhava e morava em São Paulo. Vivia bem. Mas insatisfeito com o estresse cotidiano. Então decidiu mudar radicalmente. “Já estava muito cansada de São Paulo. Não estava feliz no trabalho. Via ele chegando sempre cansado e disse que não era aquilo que queria. A vida estava passando”, ressalta Paloma.
E como vivem? Pergunta feita por todos que conhecem o casal. “Quando você mora num barco, as pessoas não te acham normal. Porque a grande maioria tem medo de tudo. Mas estamos fazendo o que gostamos. E o que quiser. Se um vizinho está escutando um funk, a gente muda de lugar. E troca de vizinho”, brinca Gustavo. “Milionários têm barcos e eles ficam parados nas marinas. Nós moramos nele”, completa.
E como fazer para bancar este sonho? “A gente faz charter, leva pessoas para passeios”, explica, entregando a nova fonte de renda, com viagens turísticas agendadas. “E temos uma reservinha também, para qualquer emergência.”
O Zenith, veleiro com toda estrutura, com três camarotes com suítes e um amplo salão com sofá e cozinha, foi construído pela própria família. Parafuso por parafuso, como gosta de dizer. Com o dinheiro obtido pela venda do primeiro barco-casa. “Nosso primeiro barco foi trocado pelo nosso apartamento. Fui a Salvador e troquei um pelo outro. Um apartamento em São Paulo pelo barco. E na escritura tem dizendo certinho como foi a troca”, destaca, abrindo largo sorriso.
Gustavo diz que o padrão de vida mudou também. Mas a felicidade aumentou. “Tivemos que reduzir bastante os custos. Praticamente não compramos roupas. Nem precisamos”, diz. “Uma vez até pensei em vender o barco e voltar para São Paulo. Elas ficaram 15 dias lá, mas vi que estavam tristes. Aí vimos que viver no mar era o que queríamos mesmo”, acrescenta, referindo-se à esposa e filha. Ele lembra que, antes de concretizar o sonho, chegou a pensar em ter uma casa de praia. “Agora temos uma casa que vai para a praia que quisermos.”
Curtindo Noronha, após a regata, Gustavo afirma que só tem um arrependimento, após ter trocado paletó e gravata pelo bermudão e chinelo de dedo. “Não ter feito isso antes.”