Acessibilidade presente na 30ª edição da Refeno

O cadeirante Rodrigo Carvalho e o deficiente visual Diego Teixeira vão participar pela primeira vez da Refeno
Fernando Castro
Publicado em 23/09/2018 às 10:03
O cadeirante Rodrigo Carvalho e o deficiente visual Diego Teixeira vão participar pela primeira vez da Refeno Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem


Faltando apenas seis dias para a 30ª Regata Internacional Recife - Fernando de Noronha (Refeno), o clima de aventura já se faz presente no Cabanga Iate Clube, especialmente para dois velejadores. O cadeirante Rodrigo Carvalho e o deficiente visual Diego Teixeira, vão participar pela primeira vez da maior regata oceânica da América Latina e não escondem o tamanho da expectativa para a competição.

Médico nutrólogo, de 35 anos, Rodrigo tem uma relação próxima com o mar desde a infância. Quando criança, praticava esportes aquáticos na praia de Maria Farinha, onde seus pais tinham uma casa. Foi na água, inclusive, que sofreu um acidente e perdeu os movimentos das pernas, há quase quatro anos. O médico, no entanto, garante que não sofreu nenhum trauma psicológico e que sua relação com o mar permaneceu intacta.

"Minha relação com a água sempre foi muito intensa, tanto é que meu acidente foi na água, depois de um mergulho. Quando fui voltar para o barco, mergulhei e só tinha dois palmos de água, mas não tive nenhum trauma com isso, tanto que com um mês depois peguei o jet ski e voltei para o local do acidente. Frequentava Maria Farinha há muito tempo, mas aquela área específica em si, eu nunca tinha mergulhado, já estava de noite e acabei não percebendo a profundidade", comentou Rodrigo Carvalho.

A cadeira de rodas, no entanto, não diminuiu a vontade que Rodrigo sempre teve de participar da Refeno, quando surgiu a oportunidade, o médico não perdeu tempo e garantiu sua presença de imediato na embarcação Toro. "É uma iniciativa minha e da tripulação de ter me aceitado no barco, estou tendo uma receptividade muito boa. Tenho a consciência que para mim não é um passeio, não é conforto, é uma aventura e que tem seu risco", afirmou Rodrigo.

Durante a Regata, terá um espaço voltado para ações sociais, onde vão ser prestados aos moradores de Fernando de Noronha, serviços médicos e beneficentes. Rodrigo vai participar da ação ministrando uma palestra sobre alimentação saudável e qualidade de vida. O médico, também, por meio de sua conta no instagram (@drrodrigocarvalho), incentiva os seus seguidores com um testemunho de motivação, além de dicas de saúde.

Nascido em São Paulo, Diego Teixeira, de 29 anos, é estudante de direito e mora no Recife há quase oito anos. Com cerca de 2% de visão, a relação do paulista com o mar teve início há pouco mais de um ano, quando começou a ter aulas de vela no Cabanga. Com o sonho de participar da Refeno, encontrou na embarcação Avatar a oportunidade de competir na regata internacional.

"Para mim é uma realização pessoal. Será a minha primeira regata oceânica de longa duração. Estou muito ansioso, mas também apreensivo, pois é uma experiência nova, é um barco bem maior do que eu estou acostumado. Velejar para mim é algo indescritível, sem comparação, só quem veleja sabe, é uma sensação ímpar. Se eu pudesse largar tudo hoje para viver só de vela, eu iria embora para o mar sem olhar para trás", declarou Diego Teixeira.

Mesmo com o problema visual e pouco tempo na modalidade, Diego tem a qualidade de velejador destacada por seu amigo de tripulação. "A nossa ignorância com relação à situação de outras pessoas é muito grande. Diego apareceu aqui para começar a velejar e logo chamou atenção da gente, não pela situação da visão dele, mas por estar vencendo cada etapa de maneira obstinada, autônoma, capaz. Diego se mete com tudo, dá opinião, dá pitacos e normalmente está certo", destacou Renato Almeida, um dos tripulantes do barco Avatar.

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