''Noronha representa tudo'', diz capitão do Patoruzú, vencedor da Refeno

Higinio Luís Araújo Marinsalta, capitão do Patoruzú, cedeu uma entrevista ao Jornal do Commercio um dia depois do título inédito da Refeno
Davi Saboya
Publicado em 02/10/2018 às 8:03
Refeno 2020 está agendada para o dia 26 deste mês Foto: Foto: Divulgação/Cabanga


Um sonho de pai para filho. Fita Azul da 30ª edição da Regata Internacional Recife-Fernando de Noronha com o Patoruzú, o capitão Higinio Luís Araújo Marinsalta conversou com o Jornal do Commercio, um dia depois do inédito título. Entre os assuntos, contou sobre o sonho do pai e a emoção pela conquista.

CHEGADA

Foi uma emoção muito grande chegar em Noronha, ainda mais em primeiro lugar e levar o Fita Azul. E ainda tem um plus porque era um sonho antigo do meu pai, que não esteve no mar comigo e outros tripulantes (Ronaldo Barroca, Ruy Guimarães, Igor Guimarães, Carlos Moura (Skypper) e Rafael Lorenzo), mas participou de tudo em terra. Foi a pessoa que construiu o barco, 90% desse título é dele. Assim que cheguei, foi a primeira pessoa que liguei. A emoção foi ainda maior nesse momento que vi o quanto ficou feliz pelo filho ter chegado em Noronha e ainda mais em primeiro.

ESTADO FÍSICO

O corpo fica muito cansado no final. Uma mistura de euforia e cansaço. Alegria por ter chegado bem e em primeiro que era o objetivo principal da gente. O outro era fazer um tempo bom, quebrar o recorde, algo parecido. O nosso barco é de regata, não tem luxo nenhum.

PREPARAÇÃO

Nós chegávamos no barco sempre no início da manhã para largar à tarde. Arrumávamos o barco, fazíamos e preparávamos tudo. Só para arrumar é coisa de uma hora, uma hora e meia. Então você já começa a regata cansado. Nesta ideia, seguimos a ideia muito boa do skypper do barco (Carlos Moura) e chegamos para organizar as coisas na sexta-feira à noite para largar no sábado. Deixamos tudo pronto no Cabanga. Aí chegamos mais tarde no clube, descansados, almoçados, já que não comemos quase nada durante o trajeto. Isso fez com que tivéssemos mais energia para correr bem. Isso acho que foi um dos pontos importantíssimos. Se alguma coisa mais séria tivesse acontecido, estaríamos prontos.

DIFICULDADE

Esse ano foi bom, pois tiveram poucas ondas. A Refeno sempre é uma regata pesada para os tripulantes e para o barco. Se comparar com as competições costeiras, elas são bem mais simples. A dificuldade ficou por parte de eventuais intercorrências que sempre acontecem na regata. Tipo: o cabo da vela, probleminha em um dos flutuantes, o que é normal de um barco de alto desempenho. Hoje o Patoruzú está muito seguro, sempre chegando em Noronha.

ALIMENTAÇÃO

É muito boa. Antes e depois. Durante é quase nada. Comemos muito bem no Recife antes de sair e depois assim que chegamos na ilha. Mas é basicamente líquido, além de sanduíche, pouco, limitado em quatro para cada um dos seis tripulantes. E salgadinho, coisa pequena, muito pouca, que praticamente não comemos na vinda. Teve também uma coisa doce. Compramos bolo de rolo pequeno. Com certeza chegamos mais magros do que saímos. Nossa tripulação é boa e não enjoa. O grande problema do nosso barco e que ele exige bastante força física.

FAMÍLIA

Todos ficam tensos. Minha esposa, minha mãe, minha irmã, que chora toda vez que eu chego. É uma família muito participativa. Tanto é que até o ano passado eu vinha com meu pai. Mas é como o barco, todos estão calejados. Participamos todo ano, velejamos sempre. Só que a preocupação sempre bate. Liguei para minha tia quando cheguei e ela começou a chorar comemorando. Sempre fica tenso, visto que não sabem o que está acontecendo. Eles ficam lá acompanhando pelo GPS.

PÓS-VITÓRIA

Foram as melhores 24 horas após a chegada em Noronha. Talvez comparado com a primeira vez que chegamos porque sempre tem aquele sonho de chegar na ilha. Agora é um momento muito bom e novo para mim. Quando avisei para o meu pai que fomos Fita Azul vi a emoção dele na voz pela vitória. Nos falamos por vídeo e deu para ver bem. Alcançar um sonho de chegar em primeiro, voltar o título para Pernambuco, que é importantíssimo para a gente.

CABEÇA

É um momento muito tenso durante a regata. Na largada eu cheguei a ficar nervoso, minhas pernas tremeram um pouco. Todo ano que eu fui, o capitão do barco era o meu pai. Esse ano não. A responsabilidade foi toda minha. A missão de trazer o Patoruzú inteiro para Noronha era minha, apesar de confiar na minha tripulação.

NORONHA

Fernando de Noronha representa tudo. Foi a causa de tudo desde o começo do barco. O meu pai construiu uma embarcação com o intuito de velejar até a ilha. Depois ele trocou pelo Patoruzú e conseguiu realizar esse sonho de chegar no arquipélago pelo mar.

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