PMs são presos suspeitos por morte de pichadores em SP

Houveram incongruências nos depoimentos dos quatro envolvidos, diz Corregedoria
Giovanna Torreão
Publicado em 07/08/2014 às 12:31


A Corregedoria da Polícia Militar deteve nesta quarta-feira, 6, de forma administrativa, os quatro policiais militares que participaram da ocorrência que terminou com a morte de dois pichadores na zona leste da capital, na quinta-feira passada. A prisão temporária deles deve ser pedida hoje à Justiça Militar.

Segundo a Corregedoria, incongruências nos depoimentos dos quatro envolvidos, filmagens coletadas durante as investigações e o testemunhos colhidos pelos investigadores colocaram em xeque a versão dos policiais - de que os pichadores haviam entrado no prédio, que fica na Avenida Paes de Barros, na Mooca, para cometer um assalto e que teriam trocado tiros com os policiais depois de serem flagrados. 

O tenente-coronel Marcelino Fernandes, da Corregedoria da PM, disse que "existe um lapso de tempo entre a invasão tática e a comunicação ao Copom (Centro de Operações da Polícia Militar)" que não foi explicado de forma satisfatória pelos envolvidos - tenente Matsuoka, sargento Amilcezar e os cabos Segala e Figueiredo. A idade deles varia entre 28 e 45 anos e, ainda segundo a Corregedoria, todos já haviam se envolvido ao menos duas vezes em ocorrências com morte de suspeito anteriormente.

Outro ponto que não está claro, segundo o tenente-coronel, é por que o caso só foi relatado por outro policial militar, que não participou da ocorrência, em vez de um dos quatro envolvidos no caso. Os suspeitos não souberam explicar o motivo. 

Câmeras. Além disso, o coronel informou ter a confirmação de que naquela noite, as vítimas estavam em plena atividade de pichação, porém sem dar indícios de que poderiam praticar algum crime de maior gravidade. "Verificou-se, com testemunhas e outras câmeras do local, que esses mesmos jovens já tinham pichado um condomínio a 300 metros dali, sem a característica de estarem armados", disse Fernandes, ao sugerir que a versão de que os rapazes invadiram o prédio para praticar um assalto era frágil. 

Uma testemunha que prestou depoimento à polícia afirmou ter ouvido pelo menos dez tiros naquela noite. Os disparos foram feitos com um espaço de tempo entre eles. 

Caso o Tribunal de Justiça Militar aceite a denúncia, os suspeitos deverão ser encaminhados para o Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital, onde aguardarão julgamento. Entretanto, se for confirmado que o caso se trata de uma execução, a Corregedoria não adiantou quais seriam as acusações que o quarteto terá de responder. 

O caso

Alex Dalla Vecchia Costa, de 32 anos, e Ailton dos Santos, de 33 tiveram a morte registrada como um fato decorrente de troca de tiros com a Polícia Militar, depois de a dupla invadir o prédio na Mooca. Na versão registrada pela Polícia Civil, os policiais militares alegaram que um policial chegou a ficar ferido durante a suposta troca de tiros com os rapazes mortos. 

Desde o começo, familiares negaram que os dois estavam no prédio para praticar crimes. A polícia havia informado ainda que ambos já haviam sido presos em ocasiões anteriores: Costa, mais de uma vez, acusado de furto - a última detenção havia sido em 2005 -, e Santos, por causa de pichações.

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