Os últimos dados de confirmação de casos de dengue nos municípios de São Paulo mostram mais uma realidade alarmante para o Estado: um terço das cidades paulistas já possuem, sem concluir o primeiro trimestre, mais vítimas da doença do que os registros coletados durante todo o ano passado.
De acordo com o boletim de 12 de março do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado, que utiliza dados repassados pelos municípios, há 56.959 confirmações de dengue em São Paulo e 145.731 notificações, registros que ainda precisam ser confirmados em laboratório.
O Estado detém mais da metade das notificações de dengue anotadas em todo o país, segundo o último levantamento do Ministério da Saúde. As confirmações deste ano já representam 30% do total atingido em 2014.
O retrocesso no combate à doença é significativo. Em 2014, 136 municípios (21%) haviam conseguido zerar os casos. Agora, 60 cidades (9%) estão "virgens da dengue".
O agravante é que , de acordo com as autoridades de saúde, o pico da doença só deve ocorrer neste ano, em maio, devido às condições climáticas e a sazonalidade do mosquito Aedes Aegypti.
Boituva (121 Km de SP) foi um dos 219 municípios que perdeu o título de "livre da dengue". Neste ano, já são contabiliza 181 casos.
A administração municipal avalia que o resultado negativo vem do impacto de um "contexto regional", uma vez que as vizinhas Sorocaba e Iperó são cidades em que a dengue avança de maneira quase epidêmica.
A cidade decretou situação de emergência e contratou mais equipes de prevenção à doença e ao mosquito.
Já a litorânea Bertioga, na Baixada Santista, vai, até agora, na contramão do movimento de expansão do surto. Os casos no município são bem menos expressivos que no ano passado, quando quase 600 pessoas pegaram dengue. Até 12 de março, dez casos foram confirmados.
A postura adotada pela administração municipal foi a de trabalhar como se a cidade estivesse em epidemia, com trabalhos intensos de prevenção e combate.
RAZÕES
Na visão dos especialistas, a reentrada em circulação de subtipos de vírus que estavam menos atuante em anos anteriores (como o 4) e o relaxamento por parte da população e dos governos em relação à prevenção ajudam a explicar os índices.
"Grandes institutos de infectologia estão mostrando que sorotipos da dengue que havia anos estavam com circulação menos frequente, estão voltando. Isso expõe uma parcela grande de pessoas que não estava imunizada", afirma Regina Tranchesi, diretora técnica e infectologista do Hospital 9 de Julho.
Ela afirma ainda que o "relaxamento" da população e das autoridades de saúde diante de um índice considerado baixo de contaminação pode contribuir para o ressurgimento de surtos.
"A população tem que cuidar da casa e os governos precisam informar, educar os cidadãos e zelar pelas áreas coletivas. Quando um dos dois relaxa, a dengue volta."
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse no começo de março, em São Paulo, que a crise hídrica no Estado também pode contribuir com a explosão de casos da dengue.
"Na medida em que as pessoas armazenam água em casa, isso pode criar uma situação de maior risco para a doença. Já em cidades que não tiveram esse problema, o crescimento significa que elas não fizeram o dever de casa ao longo de 2014."