Peritos que tentam identificar ossadas da Vala de Perus receberão apoio psicológico

Mais de mil ossadas foram encontradas e suspeita-se que tenha vítimas da ditadura militar
Da ABr
Publicado em 27/03/2015 às 16:30


Os peritos que trabalham na identificação dos restos mortais encontrados na Vala de Perus receberão apoio psicológico. A vala clandestina, encontrada no Cemitério Dom Bosco, em Perus, zona norte paulistana, foi aberta em 1990. Entre as mais de mil ossadas encontradas, acredita-se haver vítimas da ditadura militar e de grupos de extermínio que atuaram entre 1960 e 1970.

Os técnicos terão apoio do Programa Clínicas do Testemunho, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que atende vítimas e parentes dos atingidos pela repressão do regime militar. Um protocolo assinado hoje (27), estende o serviço aos especialistas que trabalham com os restos mortais encontrados em Perus. Participaram da assinatura a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti, e o secretário adjunto de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo, Rogério Sottili.

Para o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, cuidar da saúde mental dos envolvidos no processo de identificação deve colaborar com os resultados do trabalho. “Esses profissionais carregam uma carga histórica pesada sobre os ombros, e nós percebemos que poderíamos contribuir para a saúde mental [deles] nesse processo, disse durante a cerimônia. Para ele, isso ajudará os peritos a “atingir o seu êxito, que é dar uma resposta para todas as pessoas que aguardam a localização desses restos mortais”.

Atualmente, existem quatro clínicas do testemunho: duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra no Rio Grande do Sul. Uma delas, a Clínica do Testemunho Instituto Ser e Sapientiae começou a terapia com os peritos. Segundo a coordenadora do grupo, Maria Cristina Ocariz, os profissionais estão expostos a diversos tipos de tensão, que vem tanto do contato com os familiares como da leitura dos falsos relatos produzidos pelos agentes da repressão.

“A maior angústia é o contato com os familiares. Eles são antropólogos, historiadores, arqueólogos e fotógrafos; não têm formação psicanalítica. Ouvem histórias que não sabem como manejar”, conta Cristina sobre as impressões que teve nas reuniões semanais com os especialistas. Os encontros duram cerca de duas horas.

O processo de investigação sobre as ossadas de Perus tem um histórico de mais de 20 anos. Algumas ossadas foram analisadas na década de 1990 pelo Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas. Em 1992, foram identificados os restos mortais de dois presos políticos.

Desde então, o processo de identificação ficou paralisado, sendo retomado em 2014. O prazo para a identificação dos restos mortais vai até o fim de 2016. Os exames genéticos estão previstos para o segundo semestre de 2015 em laboratórios internacionais – capazes de fazer identificação em grande quantidade.

Paulo Abrãao acredita que, mesmo que não seja possível determinar as identidades dos enterrados na vala clandestina, o próprio processo de busca é um avanço. “A simples disposição de fazer a abertura da vala e, pela primeira vez, promover um trabalho cientificamente rigoroso, na tentativa de identificação dessas ossadas, é uma resposta diferenciada em relação ao tratamento histórico que o Estado deu ao tema”, avaliou.  

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