Após um dia de confrontos e de barracos desmontados na praça Júlio Prestes, dependentes químicos e moradores de rua se espalharam por ruas localizadas na região da cracolândia, centro de São Paulo, na madrugada desta quinta-feira (30).
Eles circulam em ruas próximas à área conhecida como fluxo ou favelinha. Muitos carregam carroças e carrinhos de supermercados. São vigiados de perto por policiais militares e guardas civis metropolitanos, que permanecem no local. Várias viaturas estão estacionadas na região. Equipes de limpeza e de coleta de entulhos também trabalham na madrugada.
"Eles só mudaram de rua. Estavam mais para baixo, na praça, e agora estão na alameda Dino Bueno e entorno", disse um guarda noturno acostumado com o vai e vem diário dos usuários de crack e outras drogas. "Acho que tiraram eles de praça porque vai ter algum evento festivo."
Uma operação desarticulada da prefeitura e governo do Estado na cracolândia transformou o centro em praça de guerra na quarta-feira (29). Tiros, ameaças, ônibus apedrejados, bombas de gás, barricadas de fogo e furtos a motoristas obrigaram comerciantes a fechar as portas e pedestres a fugir do local.
Segundo a prefeitura, a ação de desmontagem dos barracos da favelinha foi pactuada com os usuários. De acordo com a administração municipal, os barracos eram usados para moradia e também por traficantes que tentavam escapar do monitoramento por imagem na região.
No entanto, a líder comunitária Rita Rose, 48, afirmou durante a madrugada que houve uma "traição" aos frequentadores da cracolândia.
"Combinamos que as carroças ficariam a 200 metros do fluxo. Mas começaram a colocar as carroças do caminhão para levar embora. Não cumpriram o combinado com a gente. A prefeitura prometeu que não ia ter confronto", disse.
O conflito começou por volta das 14h, quando policiais militares à paisana teriam sofrido uma tentativa de agressão. Um deles atirou, a bala ricocheteou no chão e estilhaços atingiram duas pessoas.
Para a líder comunitária da região, confrontos como o de quarta-feira estragam o trabalho feito até agora para encaminhar dependentes químicos para tratamento, moradia em hotéis e pensões e também para o trabalho.
Ela criticou a briga entre órgãos municipais e estaduais e pediu que todos "vistam a camisa" e ajudem a situação a melhorar.
Da janela de uma das pensões, um usuário ouviu parte da conversa e resolveu agradecer à líder comunitária.
"Rita, obrigada por existir", disse.