Rio vive maratona olímpica de obras a um ano das Olimpíadas

Apesar de avanço em obras serem considerados satisfatórios, descontaminação da Baía de Guanabara será um desafio
Da AFP
Publicado em 02/08/2015 às 14:45
Apesar de avanço em obras serem considerados satisfatórios, descontaminação da Baía de Guanabara será um desafio. Foto: Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil


A 12 meses de a pira olímpica ser acesa, o Rio de Janeiro é um verdadeiro canteiro de obras, que avançam em ritmo satisfatório. Gruas, tratores e caminhões derrubam, constroem e se movem ruidosamente, levantando poeira. Os apartamentos tremem enquanto um novo túnel de metrô é aberto debaixo da terra. 

"Vemos com muita satisfação que poderemos entregar a tempo todas as obras", disse à AFP o ministro dos Esportes, George Hilton. Após o sucesso na Copa do Mundo de 2014, apesar dos atrasos e dos violentos protestos, a presidente Dilma Rousseff promete Jogos "perfeitos", com a presença de 10.500 atletas de 205 países competindo em 42 modalidades por 306 medalhas.

Os especialistas alertam, no entanto, sobre as promessas descumpridas da descontaminação das águas da Baía de Guanabara, onde serão disputadas as competições de iatismo.

"Não há um segundo a perder", alertou, na semana passada, Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), que antecipou que as obras se estenderão até o dia de abertura das Olimpíadas, 5 de agosto de 2016.

"Os Jogos vão acontecer, mas algumas das obras ainda não terminaram e isso é preocupante", disse à AFP Lamartine da Costa, especialista em Jogos Olímpicos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e editor de um livro sobre o futuro dos megaeventos esportivos.

 

Desafio Nº 1: água limpa

Entre os desafios dos organizadores, "o maior é a limpeza da Baía do Rio", advertiu o chefe do COI.

Além da preocupação com a saúde dos atletas, em contato direto com coliformes fecais, o lixo flutuante pode reduzir a velocidade das embarcações, com consequências catastróficas para os competidores.

Cerca de 75% das águas fornecidas aos 12 milhões de habitantes da área metropolitana do Rio não são tratadas, e grande parte desemboca diretamente na Baía de Guanabara.

No início, o governo do Rio prometia a limpeza de toda a Baía, mas depois a meta foi reduzida para 80% e agora o governador Luiz Fernando Pezão afirma que não sabe quanto poderá ser limpo. 

Leonardo Gryner, diretor-geral da Comissão Organizadora dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, garantiu à AFP que em um ano "80% das águas fornecidas serão tratadas".

 

Transporte: o maior legado

Os Jogos prometem mudar a realidade de milhares de cariocas que utilizam diariamente o obsoleto e congestionado transporte público.

Gryner promete que a extensão de una linha de metrô para a Barra da Tijuca, coração das provas olímpicas, será concluída em junho. 

Também serão construídas dezenas de quilômetros de novas vias de ônibus, rápidas e exclusivas, ligando o Galeão às quatro áreas olímpicas da cidade.

"O maior legado dos Jogos Olímpicos será o transporte", opinou o professor Lamartine da Costa, ressaltando que boa parte do êxito do evento depende da ampliação da linha do metrô. Segundo ele, apenas 30% dos habitantes do Rio utiliza atualmente esse tipo de transporte público, mas a partir dos Jogos esse percentual pode subir para 66%.

 

Segurança redobrada

Garantir a segurança em uma cidade com forte histórico de violência, onde há uma média de três homicídios por dia somados aos mortos por bala perdida, sobretudo nas favelas, é um enorme desafio.

A tarefa será de 85.000 policiais, o dobro da equipe usada em Londres em 2012. Trata-se da maior operação de segurança na história do país.

O governo e os especialistas acreditam, entretanto, que os turistas e atletas podem ficar tranquilos, já que o Rio tem experiência na organização de megaeventos, em que não foram registrados maiores problemas.

"Nós fizemos uma Copa do Mundo segura. Se fomos capazes de garantir a segurança em 12 cidades, nós somos capazes de garantir a segurança em uma cidade", argumentou a presidente Dilma.

 

Olimpíadas baratas

O ex-presidente Lula liderou em 2009 a campanha na qual o Rio foi designado a sede do maior evento esportivo mundial, na tentativa de consolidar o Brasil como potência emergente.

Mas hoje o Brasil está longe da boa fase econômica que parecia assegurar Jogos pródigos: a economia deve sofrer uma retração de quase 2% em 2015. Às dificuldades econômicas soma-se a crise política do governo Dilma, fortemente abalado pelo escândalo de corrupção na Petrobras.

Para evitar protestos contra excessivos gastos públicos como aconteceu na Copa de 2014 e de adaptar-se aos tempos de vacas magras, a escala das obras para as Olimpíadas foi cortada. 

O orçamento é de quase 12 bilhões de dólares, um pouco inferior ao de Londres-2012 e muito menor do que o de Pequim-2008. "Estas serão as Olimpíadas mais baratas da história", disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes.

As autoridades prometem que o orçamento, financiado com recursos privados em 57%, será respeitado. Também garantem que não existirão "elefantes brancos" porque os estádios serão transformados em escolas ou centros de entretenimento.

Um grande protesto nacional contra Dilma Rousseff está previsto para 16 de agosto. "Hoje o que incomoda a população não são os Jogos, mas o próprio governo", resumiu o professor.

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