A lama que escapou das barragens da mineradora Samarco na última quinta-feira (5), em Mariana (MG), pode comprometer o ciclo reprodutivo de uma das espécies de tartaruga mais ameaçadas de extinção no Brasil.
A onda de rejeitos está percorrendo o rio Doce desde Minas Gerais e deve chegar nesta terça-feira (10) à foz do rio, no município de Linhares, litoral norte do Espírito Santo. O local é a única área regular de desova da tartaruga gigante Dermochelys coriacea no litoral brasileiro.
O alerta foi dado pela coordenadora regional do Projeto Tamar, a veterinária Cecília Baptistotte. "A desova dessa espécie começa em setembro e atinge o pico em novembro. Elas sempre retornam a essa região e não sabemos como a presença desses dejetos na água vai afetar o comportamento dos animais", diz.
Para evitar contaminação, técnicos do Projeto Tamar realizaram nesta segunda (9) a transferência de 17 ninhos de tartaruga identificados na foz do rio Doce. Os cerca de 840 ovos foram levados para uma área distante da foz. "Fizemos o possível para preservar esses ninhos, mas o pico da temporada de desova começa agora. Há muitas fêmeas próximo à praia", afirma a veterinária.
ÁGUA MINERAL
O governo do Espírito Santo lançou nesta segunda (9) uma campanha para a doação de água mineral para abastecer os moradores dos municípios de Baixo Guandu, Colatina e Linhares, que devem ser afetados pela onda de lama. As doações estão sendo recebidas pelo Corpo de Bombeiros do Espírito Santo.
A previsão é que os rejeitos atinjam o reservatório da represa de Aimorés até o final da tarde, quando será suspensa a captação de água para abastecimento de Baixo Guandu, na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais. Cerca de 25 mil pessoas devem ser afetadas.
Na manhã desta terça, a lama deve chegar a Colatina, cidade com 111 mil habitantes, e seguir até Linhares, onde moram cerca de 140 mil pessoas.