Ambiente de divulgação do vídeo de estupro coletivo contra uma jovem de 16 anos do Rio de Janeiro, o Twitter se transformou, logo em seguida, em uma importante ferramenta de denúncia e de discussão sobre a cultura do estupro. Um levantamento feito por Bianca Bortolon e Luísa Perdigão, pesquisadoras do Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) mostra a força dessa rede de solidariedade.
Entre os dias 20 e 27 de maio, 999.826 mensagens foram publicadas sobre o tema no Twitter por 343.543 usuários. Se número de quase um milhão de tweets impressiona, também chama atenção o fato de a rede ser majoritariamente de pessoas que prestavam solidariedade a jovem e denunciavam a cultura do estupro, enquanto o número de postagens criminalizando a vítima era mínimo.
"O que me chamou atenção foi um caráter de denúncia. E depois se tornou uma rede de afeto, de sororidade. Foi engraçado porque no Facebook houve vários comentários negativos. E depois formou-se toda uma rede de apoio. Tanto no Facebook, quanto no Twitter", explica Luísa Perdigão, uma das autoras do levantamento.
Confira a pesquisa da UFES na íntegra.
No Twitter, o movimento começou a ganhar força como uma ação para denunciar a publicação do vídeo. No gráfico que mostra os perfis mais mencionados entre os 62.662 que foram citados nas mensagens, as contas da Polícia Federal e da Polícia Civil do Rio de Janeiro aparecem com destaque, assim como os dos três perfis que compartilharam o vídeo.
Quando são analisados os 743.776 retweets, perfis de humor se destacam. Principalmente as contas @majutrindade, @cleytu e @itspedrito. Mas eles foram usados como ferramenta para ampliar a discussão, não para fazer piada sobre o caso de estupro.
"Isso foi uma coisa bem interessante. Qualquer assunto, principalmente de política, que a gente vai discutir na rede, gera aqueles memes expontâneos. Eu acho que por ser um tema muito sério, até os perfis humorísticos trataram de uma forma séria. Eu nem imaginava incialmente que eu fosse encontrar perfis de humor nessa rede. Eles usaram esse engajamento que eles já têm em prol de divulgar a mobilização contra a cultura do estupro", diz Luísa.
FEMINISMO - Uma das hipóteses para a força do movimento "30 contra todas" é que as redes sociais têm se tornado um terreno fértil para os debates sobre feminismo e o empoderamento feminino. Durante as ações contra a cultura do estupro, outros casos relacionados à violência contra mulher voltaram a tona, como o atentado contra a apresentadora Ana Hickmann e a denúncia de violência doméstica da atriz Amber Heard, casada com o ator Johnny Depp.
"Tem um tempo que a gente está acompanhando alguns movimentos na Internet mais direcionado ao movimento feminista. E a gente está vendo que há uma sucessiva utilização de hashds_matia_palvr para a mobilização em rede em prol desse assunto. Como a do primeiro assédio. A hashtag tem sido um movimento de luta para levar esse debate e fazer com que esse tema esteja em voga", conta Luísa.