O rico patrimônio iraquiano, já severamente danificado pela campanha de vandalismo e destruição do grupo extremista Estado Islâmico, corre o risco de sofrer novas destruições na batalha para reconquistar a cidade de Mossul, nas mãos dos radicais.
Em 2014, depois de se apoderar de Mossul, a segunda cidade do Iraque, o EI destruiu o museu onde se encontravam objetos inestimáveis das épocas assíria e helenística.
O grupo extremista também atacou as cidades antigas de Hatra e Nimrud, perto de Mossul, e mostrou a sua destruição em vídeos.
As forças iraquianas estão estreitando o cerco sobre Mossul, último grande bastião do EI no país, mas os jihadistas permanecem dentro ou nos arredores de lugares históricos.
"Segundo nossas informações, (o EI) está presente nos sítios arqueológicos", declarou Ahmed al Asadi, porta-voz das Hashd al Shaabi, uma coalizão de milícias xiitas apoiadas pelo Irã.
As Hashd lançaram uma operação no sábado que poderia derivar em combates contra o EI em regiões onde se encontram vários dos sítios arqueológicos iraquianos mais conhecidos, como Hatra e Nimrud.
Hatra, uma antiga cidade fortificada de mais de 2.000 anos, se encontrava bem conservada, com templos impressionantes, onde a arquitetura grega e romana se misturava com elementos de origem oriental.
Em Nimrud, continuavam havendo baixos-relevos e lamassus (touros alados com rosto humano) colossais, embora a maioria dos objetos procedentes desta cidade assíria estejam expostos há muito tempo em museus de Mossul, Bagdá, Paris e Londres.
"Acreditamos que (o EI) tenta atrair as forças (iraquianas) para estes locais, para destruí-los ainda mais", disse Asadi.
O EI já tinha instalado um acampamento de treinamento na cidade antiga de Hatra, inscrita no Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco. E continua hospedando combatentes, afirma Ali Saleh Madhi, um responsável iraquiano da zona.
Em Nimrud, o EI colocou explosivos nos monumentos e fez o sítio explodir. Os extremistas continuam nos arredores, segundo Ahmed al Jubori, o administrador da zona.
Quando foi lançada a operação para reconquistar Mossul, em 17 de outubro, a Unesco pediu a "todos os atores implicados nesta ação militar para proteger o patrimônio cultural, não utilizá-lo com fins militares e evitar tomar os sítios e monumentos culturais como objetivos".
A Unesco e o Ministério da Cultura iraquiano distribuíram entre as forças antijihadistas listas com os locais culturais, assim como suas coordenadas GPS. Na lista da Unesco, 15 dos 80 nomes apareciam com a descrição "lugar do Patrimônio da Humanidade com uma significação cultural extrema".
Segundo o vice-ministro de Cultura, Qais Rashid, o repertório do ministério contém as coordenadas dos locais onde os combatentes do EI estão presentes. Os jihadistas colocam "armas e às vezes treinam seus combatentes nos sítios arqueológicos", detalhou.
Desde que passaram a ocupar vários territórios iraquianos em 2014, os jihadistas lançaram uma campanha de destruição, que eles justificam com motivos religiosos, para eliminar os "ídolos".
Na realidade, os ataques contra o patrimônio cultural têm objetivos propagandísticos, e a venda de objetos no mercado negro serve para financiar o grupo.
Em fevereiro, o EI publicou um vídeo onde se viam combatentes armados com marretas e furadeiras destruindo o museu de Mossul. Estas imagens provocaram uma onda de indignação.
A Unesco qualificou "a demolição do museu de Mossul e a destruição dos vestígios arqueológicos de Nínive (...) como um dos ataques mais bárbaros contra o Patrimônio da Humanidade".
"Estes crimes não podem ficar impunes", advertiu a instituição.