O Brasil vai manter para microcefalia a situação de emergência sanitária de importância nacional independentemente da decisão da Organização Mundial da Saúde, que deverá ser tomada em uma reunião nesta sexta-feira (18). "As consequências da microcefalia são muito graves, o Brasil está acumulando conhecimento sobre o assunto, precisamos manter a vigilância", afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.
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A situação de emergência nacional foi declarada em novembro de 2015, diante do aumento súbito de casos de microcefalia na região Nordeste. Em fevereiro, foi a vez de a Organização Mundial da Saúde declarar emergência mundial. Nesta tarde de sexta-feira, 18, em Genebra, durante a 5ª reunião do Comitê de Emergência, especialistas vão definir se a situação de emergência internacional deve ser mantida.
O Brasil já foi ouvido e informou ao comitê que manterá a emergência nacional. O jornal "O Estado de S. Paulo" apurou que a decisão do governo é manter essa condição, pelo menos até o fim deste verão, quando se encerra o ciclo de maior risco de transmissão de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti - zika, chikungunya e dengue. A estratégia de autoridades sanitárias brasileiras é aguardar o comportamento da zika em 2017, verificar a extensão de um eventual segundo ciclo e nascimentos de bebês com microcefalia.
Segundo ciclo
A expectativa era a de que o segundo ciclo de nascimento de bebês com a má-formação relacionada à transmissão do zika da mãe para o feto durante a gestação aumentasse a ocorrência de forma mais expressiva entre julho e novembro deste ano. Um fato que até agora não se confirmou. Entre outubro e novembro, foram notificados em média 82 casos suspeitos de microcefalia por semana. Uma marca 86% menor do que a registrada no mesmo período do ano passado.
A maior parte dos casos está concentrada no Nordeste. Quando se analisa os dados por município, verifica-se que a maior marca de casos está em Salvador, com 154 casos confirmados. Em seguida vem o Rio, com 110, e Recife, com 64.
"Há ainda algumas dúvidas que precisam ser esclarecidas", afirmou Wanderson Oliveira, coordenador geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde. Ele disse não ser possível ainda avaliar qual o comportamento da circulação do zika este ano. Como até agora não havia um teste rápido para identificar a infecção pelo vírus, afirma, os números sobre a doença registrados até então são pouco confiáveis. Além de não saber qual a população que foi atingida até o momento, não há certezas sobre os efeitos do vírus no organismo de quem já teve infecção. "Essas pessoas podem ter uma proteção. Mas será que ela é permanente, duradoura?", questionou
As afirmações foram dadas durante o lançamento de uma série de medidas sobre microcefalia. Como o jornal adiantou na semana passada, o Ministério da Saúde mudou a classificação da microcefalia, determinou que gestantes com suspeita de infecção por zika devam fazer pelo menos dois exames de ultrassom durante a gestação e que bebês de mães que tiveram a suspeita de zika durante a gestação terão de ser acompanhados até os três anos de idade.
Com a nova classificação, microcefalia passa a ser um sintoma da infecção congênita provocada por zika. "Há casos de bebês que nascem com perímetro cefálico considerado normal que, numa outra etapa, podem apresentar sintomas da doença", disse Barros. A adoção do perímetro cefálico agora será mais restrita. Serão considerados com microcefalia meninos com perímetro cefálico menor ou igual a 30,5. Até agora, a marca era de 31,9 centímetros. No caso das meninas, a queda na classificação também ocorreu: de 31,5 centímetros atuais para 30,2 centímetros.
A síndrome pode ser diagnosticada até os 3 anos. Muitos bebês apresentam, com o passar do tempo, problemas auditivos, visuais e de locomoção que não haviam sido identificados no nascimento - todas alterações relacionadas à infecção pelo zika.