Acordo entre Governo e PMs encerra a greve no Espírito Santo

Greve resultou em uma séria crise de segurança pública no Estado
JC Online
Publicado em 10/02/2017 às 20:26
Greve resultou em uma séria crise de segurança pública no Estado Foto: Foto: Reprodução/TV Gazeta


O Governo do Espírito e associações de militares entraram em um acordo para encerrar o movimento que tirou das ruas os policiais e bombeiros militares do Espírito Santo. Esse movimento resultou em uma séria crise de segurança pública no Estado, causando saques, aumento da criminalidade e instaurando o medo entre a população

No documento que firma o acordo, o retorno dos agentes fica previsto para este sábado, às 7h, com todos os quarteis e batalhões liberados.

Apesar do consenso, o Governo não aceitou o pedido de reajuste salarial, mas prometeu apresentar uma proposta de aumento no final do mês de abril deste ano, índice que também será oferecido para outras categorias do funcionalismo público estadual. 

Violência

O número de mortes violentas no Espírito Santo subiu para 121, desde o início do motim da Polícia Militar, em 4 de fevereiro. Os dados foram divulgados pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) com base nos registros do Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes), órgão do governo do Espírito Santo que reúne instituições como PM, Polícia Civil e Guarda Municipal de Vitória, entre outros. A Secretaria de Segurança não confirma os números.

Pelos dados divulgados pelo Sindipol, o dia mais violento foi a segunda-feira (6) quando foram registradas 40 mortes. Nesta sexta-feira (10), houve quatro homicídios até as 10h.

Por dia, os registros são:

sábado (4) - 8 mortes

domingo (5) - 17 mortes

segunda (6) - 40 mortes

terça (7) - 22 mortes

quarta (8) - 14 mortes

quinta (9)- 16 mortes

sexta (10)- 4 mortes

Insegurança

A sensação de insegurança que tomou conta da Grande Vitória e o elevado número de lojas fechadas está fazendo com que a população lote os grandes supermercados da região. Na manhã desta quinta-feira (9) o maior supermercado do bairro residencial de Mata da Praia, em Vitória, registrava enormes filas. Alguns produtos já estão acabando e o estabelecimento tem feito interrupções no serviço ao longo do dia devido à dificuldade de fluxo no interior da loja.

"Está parecendo a Venezuela, só que lá não tem alimentos", afirmou o administrador Sebastião Guimarães, de 57 anos. "Estamos estocando alimentos, mas aqui também já estão faltando alguns produtos. Ontem minha mulher não encontrou carne."

A falta de alguns produtos foi confirmada pelo subgerente do supermercado, Adélio Ramos. "Estamos com poucos funcionários. Os que estão vindo trabalhar é porque a gente está indo buscar em casa, já que não tem ônibus nas ruas. Alguns fornecedores também não têm feito entrega. Hoje, por exemplo, não tem mais ovos", comentou. Os repositores trabalhavam sem parar durante a manhã, mas a prateleira com macarrão instantâneo já estava praticamente vazia.

Medo

O aposentado Ervino Nitz, 77, saiu de casa pela primeira desde o final de semana, quando estourou a crise na segurança no Espírito Santo. As compras do dia foram maiores do que em circunstâncias normais. "Estou me prevenindo, mas a gente fica até chateado com o que está acontecendo", declarou.

Ele disse que, com o passar dos dias, ganhou "um pouco de confiança" para voltar às ruas. "Estou perdendo um pouco do medo, mas só vou para a rua pela manhã. Mais pro fim da tarde começa a ficar perigoso", destacou o aposentado.

A autônoma Lúcia de Fátima Merçon, 62, por sua vez, demonstrava mais tranquilidade. Ela não se queixou da grande fila que tinha pela frente para pagar as compras no caixa. "Tenho vindo quase todos os dias. Aqui no bairro está tranquilo, a única coisa que soube foi do roubo de um carro esses dias", comentou.

Lúcia de Fátima disse que a paralisação dos policiais militares "é ruim", mas não criticou a atitude. "Eu levo bolo e café para os policiais aqui perto todos os dias há mais de um ano. Eles merecem", disse. Todo mundo tem o direito de reivindicar. Os professores vão às ruas protestar, os servidores em geral vão, por que os policiais não poderiam também?"

A opinião é diferente daquela de Ervino Nitz. "Acho isso tudo uma falta de respeito com a população. Nunca vi nada parecido na minha vida, nos deixaram à própria sorte com os bandidos", reclamou.

Sebastião Guimarães também criticou a paralisação. "Vai normalizar só quando a polícia entender que a segurança é necessária. Não dá para deixar a população à mercê dos bandidos. A polícia não pode nos abandonar. Imagina se a população começar a se armar o que pode acabar acontecendo."


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