As vítimas de um líder carismático católico da América Latina acusado de violência sexual, psicológica e física denunciaram a forma como o caso foi tratado pelo Vaticano, dizendo que o atraso de seis anos na investigação e a resolução final do caso não são satisfatórios para as vítimas.
"É realmente vergonhoso", disse Pedro Salinas, que denunciou em 2015 as práticas do Sodalitium Christianae Vitae (SCV), com sede no Peru, e foi vítima de abuso psicológico de Luis Fernando Figari. Figari fundou o SCV em 1971 como uma comunidade leiga para recrutar "soldados para Deus". Essa é uma de diversas sociedades católicas que nasceram de uma reação conservadora ao movimento de esquerda da teologia da libertação que varreu a América Latina a partir da década de 1960. O grupo conta com cerca de 20 mil membros na América do Sul e nos EUA.
Figari era um intelectual carismático, mas também "narcisista, paranoico, degradante, vulgar, vingativo, manipulador, racista, sexista, elitista e obcecado com questões sexuais e a orientação sexual dos membros do SCV", de acordo com um relatório investigativo encomendado pela liderança do SCV datado de 10 de fevereiro. O relatório, de dois especialista norte-americanos e um irlandês em abuso, descobriu que Figari sodomizou seus recrutas e forçou-os a acariciá-lo e uns aos outros. Ele gostava de vê-los "experimentar dor, desconforto e medo" e humilhá-los em frente de outros para aumentar seu controle sobre eles, segundo o relatório.
As vítimas se queixaram pela primeira vez à arquidiocese de Lima em maio de 2011. A arquidiocese diz que transferiu o caso para o Vaticano imediatamente, mas nem a Igreja local nem a Santa Sé tomaram medidas concretas até o livro de Salinas, "Metade Monges, Metade Soldados", ser publicado em 2015. Naquele ano, o Vaticano nomeou um investigador para o grupo. E em 30 de janeiro, o Vaticano ordenou a Figari que vivesse fora da comunidade em Roma e cessasse todo o contato com ela, declinando o pedido do SCV de expulsão.
As sanções, disse Salinas, equivalem a um "exílio de ouro", onde Figari pode viver confortavelmente, com todas as suas necessidades atendidas. Como leigo, Figari não estava sujeito ao mesmo castigo de retirada da batina usado para punir os sacerdotes abusivos.
No decreto, a congregação do Vaticano para as ordens religiosas defendeu o atraso de seis anos em agir dizendo que as informações recebidas tinham lacunas e eram inconsistentes. O porta-voz do Vaticano, Greg Burke, disse que as reclamações iniciais eram anônimas, "o que não é pouca coisa quando se trata de acusações tão sérias".
Mas Rocio Figueroa, ex-membro do SCV, disse que se as autoridades do Vaticano ou da igreja peruana tivessem realmente se preocupado em investigar ou ajudar as vítimas, teriam feito novas investigações.