Estabelecer parâmetros que deem transparência aos veículos de mídia digital é o objetivo do Trust Project, da Universidade de Santa Clara (EUA), que teve seu capítulo brasileiro traduzido para Projeto Credibilidade. No Brasil, a iniciativa é lidera pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). O Sistema Jornal do Commercio é o mais novo veículo a aderir à iniciativa, que conta no País com 17 redações, agências e instituições engajadas. Ferramentas e processos que mostrem o esforço dos veículos para aumentar sua credibilidade são desenvolvidos em conjunto pelos vários participantes.
"É do interesse dos veículos de mídia dissociarem o jornalismo de qualidade do ruído", explica a jornalista Ângela Pimenta, diretora do Projor. Ela e o professor Francisco Belda, da Unesp, apresentaram o projeto na semana passada no Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Também na semana passada os dois promoveram um design day envolvendo os participantes do projeto, na sede do Jornal Folha de S.Paulo. O objetivo era prototipar interfaces que permitam às redações adotarem os indicadores de qualidade.
A chave de tudo, ressaltam Angela e Belda, é a transparência. "É como abrir a cozinha do restaurante para os clientes. Para que eles saibam quem e como está sendo produdindo o prato a ser servido que, no caso, é a notícia", explica Angela Pimenta. O design day na Folha focou em três indicadores tidos como prioritários: o tipo de texto que se está lendo (notícia, opinião, verificação de fatos, conteúdo patrocinado, entre outros), as melhores práticas (código de conduta do veículo, quem o financia, qual sua linha editorial... e a identiticação de autoria e expertise do autor do texto. Tudo isso exibido de forma simples e completa para os usuários.
Uma observação que Francisco Belda e Angela Pimenta fazem é que o Credibilidade não funciona como um atestador, um certificador. A adoção das boas práticas parte do esforço de cada veículo. Aqueles que se engajam no projeto colaboram nas discussões sobre quais e como devem ser trabalhados os indicadores, mas mesmo veículos de fora podem seguir as sugestões e se tornarem mais transparentez para sua audiência, reforçando a relação de confiança entre produtor e consumidor.
A opção de convidar grandes veículos de mídia para serem a ponta de lança do Credibilidade surgiu para que o projeto gere um buzz importante e termine por influenciar o trabalho de veículos de todos os tamanhos. "Ao adotar o protocolo, embalando de forma transparente o conteúdo, a imprensa pode contribuir muito com a educação cívica e midiática", explica Ângela. "As pessoas precisam saber separar o joio do trigo. Uma notícia bem produzida, seguindo boas práticas, é padrão ouro. E as pessoas precisam saber de onde veio a notícia para compartilhá-la. As pessoas têm que aprender a 'segurar o dedo' antes de passar adiante informação falsa", destaca Ângela.
"O leitor precisa perceber que está navegando por um veículo transparente, que deixa claro como apura a informação, que declara se adota uma determinada linha editorial e diz quem são os responsáveis pelo que está sendo dito. Num mundo de fake news, isso é fundamental para que não se passe adiante mentiras fabricadas com segundas intenções", comenta a jornalista Maria Luiza Borges, diretora de Conteúdos Digitais do Sistema Jornal do Commercio. Ela participou, ao lado da repórter especial Ciara Carvalho, do design day. O Sistema Jornal do Commercio deve começar a trabalhar nos indicadores de qualidade ao longo deste semestre.