Autoridade de Milagres diz que 'houve excesso' na ação para impedir assalto a bancos

Três dias após tentativa de assalto, não se sabe de onde partiram tiros que mataram os seis reféns
JC Online
Publicado em 10/12/2018 às 9:06
Três dias após tentativa de assalto, não se sabe de onde partiram tiros que mataram os seis reféns Foto: Foto: Fabio Lima


"Houve excesso. No mínimo, imprudência." Essa é a avaliação de uma autoridade da Prefeitura de Milagres sobre a ação que resultou na morte de 14 pessoas na madrugada de sexta-feira, 7. Sob a condição de anonimato, ele afirmou ao O POVO que a operação policial que impediu o assalto a duas agências bancárias (Bradesco e Banco do Brasil) no município foi marcada por "exagero".

Das 14 vítimas, seis eram reféns - cinco da mesma família, que era natural de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco, enterradas no último sábado. Única cearense entre os inocentes mortos, Francisca Edneide da Cruz Santos, 49, foi sepultada na manhã de ontem, no cemitério de Brejo Santo. No local, estavam marido e filhos que haviam chegado de viagem de São Paulo no dia anterior.

Três dias depois do crime, ainda não se sabe de onde partiram os tiros que assassinaram os reféns durante a ação.

Oito criminosos foram presos ainda na sexta-feira. Cinco deles foram detidos quando retornavam para resgatar um do integrante do bando, que havia se mantido escondido num matagal numa região no limite entre Brejo Santo e Milagres.

Ao O POVO, um delegado de Brejo Santo afirmou que as buscas se concentram nas duas cidades, onde ainda podem estar escondidos membros do grupo que realizou a ação que pretendia assaltar os bancos.

No roteiro do crime, eles interromperam a BR-116 com uma carreta de uma transportadora, atravessando-a na estrada. Foi nesse ponto que abordaram os carros das duas famílias feitas de reféns. Pouco tempo depois, eles seriam mortos na esquina da rua Padre Misael Gomes, no centro de Milagres, a 30 metros da sede da Prefeitura e a cinco quarteirões da delegacia.

No local, marcas de bala em muros, postes e paredes são os sinais de intenso tiroteio, que, segundo testemunhas, durou cerca de 20 minutos. Ao O POVO, comerciantes disseram que a Polícia recolheu imagens registradas nas câmeras de segurança de pelo menos três estabelecimentos - duas farmácias e um mercado. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não confirma a informação.

Titular da Secretaria da Segurança de Milagres, o tenente George Freitas diz que, aos poucos, o clima vai voltando ao normal na localidade. Segundo ele, a Polícia ainda realiza exames de balística e pericia as gravações e os veículos que foram recolhidos e levados até o pátio da delegacia do município.

Entre eles, estão a Ford Ranger da família do empresário João Magalhães, de  Serra Talhada, e o Celta branco do irmão de Edneide. Dentro dos carros, ainda há vestígios de utensílios utilizados no crime, como uma balaclava preta deixada na carroceria da Ford e um lençol branco com manchas escuras dentro do Celta.

Tanto João quanto o irmão de Edneide haviam ido até o aeroporto de Juazeiro do Norte na noite de quinta-feira para apanhar os parentes que desembarcaram de voo vindo de São Paulo.

Morreram também Vinícius Magalhães, 14, filho de João; Claudineide Campos de Souza, 42; o marido Cícero Tenório dos Santos, 60; e o filho do casal, Gustavo Tenório dos Santos, 13. Eles voltavam à região para passar o Natal com seus familiares.

Por meio de nota, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) lamentou o episódio e disse que a "Promotoria de Justiça da Comarca acompanha o desenrolar das investigações junto à Polícia Civil".

Ainda nesse comunicado, o MPCE informa que o procurador-geral de Justiça, Plácido Rios, "designará um grupo de promotores para monitorar os desdobramentos deste caso a fim de esclarecer todas as informações e garantir a apuração completa de todos os fatos relacionados às trágicas mortes das pessoas inocentes".

TAGS
milagres ceará assalto a bancos
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory