O Ministério Público de Goiás (MP-GO) enviou ao Tribunal de Justiça do estado (TJ-GO), nesta sexta-feira (28), denúncia contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Segundo o tribunal, a denúncia foi feita por violação sexual e estupro de vulnerável. O TJ-GO confirmou o recebimento da denúncia e disse que “está em mesa para análise”. O caso corre em segredo de Justiça.
João de Deus é acusado de ter cometido crimes de abusos sexuais contra mulheres que frequentaram a casa onde oferece atendimento espiritual. O Ministério Público apura mais de 250 casos. Ele nega as acusações.
A denúncia, segundo a promotora Gabriella de Queiroz, foi feita com base em quatro crimes, dois delitos de violação sexual mediante fraude e dois crimes de estupro de vulnerável. Todos ocorreram em 2018.
As duas investigações consideradas na denúncia envolviam o universo total de 19 vítimas. Cinco delas precisam ainda de diligências complementares, por isso foram instaurados novos procedimentos para a conclusão das mesmas. Os demais dez casos estão ou decaídos ou prescritos.
O caso mais antigo é de 1975 e o mais recente, de maio de 2018. “Falando em linguagem leiga, o direito penal não alcança mais a punição desses fatos, não podemos mais buscar uma punição pelo direito penal”, explica a promotora. Apesar disso, os casos foram relatados também na denúncia.
O médium está preso em caráter preventivo desde o dia 16 de dezembro, quando se entregou às autoridades policiais. Ele está em uma cela de 16 metros quadrados do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO).
A denúncia foi concluída após o MP-GO ouvir testemunhas. Nessa quarta-feira (26), o próprio médium prestou depoimento aos promotores da força-tarefa do MP-GO que investiga as acusações de crimes sexuais apresentadas por centenas de mulheres do Brasil e do exterior. Ele voltou a afirmar que nunca cometeu nenhum abuso contra frequentadores do centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO).
A esposa do médium, Ana Keyla Teixeira, também poderá ser indiciada. Ela prestou depoimento também na quarta na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, em Goiânia. Segundo a delegada Paula Meotti, que integra a força-tarefa que investiga o caso na Polícia Civil, há indícios de que ela sabia do que ocorria dentro de casa.
“Ela pode ser indiciada, não temos como antecipar. Existe possibilidade real. Um dos pontos é a questão das armas no quarto do casal, que era muito facilmente identificável. Não tem como negar que tivesse ciência e há indício que inclusive seja propriedade dela”, disse Paula à Agência Brasil, nessa quinta-feira (27).
No depoimento à polícia, Ana Keyla negou qualquer envolvimento e disse que não sabia sobre armas, munições ou dinheiro. Disse ainda que nunca tinha ouvido falar sobre nenhum abuso sexual que possa ter sido cometido pelo marido. Segundo a delegada, ela pode ser indiciada como coautora ou partícipe, o que pode levar a, caso condenada, a cumprir uma pena de 3 a 6 anos de prisão.
Nesta semana, a polícia segue as investigações. Segundo Paula, são quatro os inquéritos abertos na polícia civil que investigam os crimes praticados por João de Deus.