Voz que liberou entrada de suspeito de matar Marielle não é de porteiro que citou Bolsonaro, diz jornal

Em um relatório da perícia, assinado por seis peritos, consta que o áudio da portaria não sofreu qualquer tipo de edição e revela quem foi responsável por permitir a entrada do suspeito no condomínio
Marcelo Aprígio
Publicado em 11/02/2020 às 9:40
Em um relatório da perícia, assinado por seis peritos, consta que o áudio da portaria não sofreu qualquer tipo de edição e revela quem foi responsável por permitir a entrada do suspeito no condomínio Foto: Foto: Reprodução/Google Street View


Uma perícia feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu que a voz do porteiro que liberou a entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz no condomínio Vivendas da Barra, no dia do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes, não é do profissional que citou o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante as investigações. As informações são do jornal O Globo.

O relatório da perícia é assinado por seis peritos e nele consta que o áudio da portaria não sofreu qualquer tipo de edição e que a pessoa que autorizou a entrada de Élcio no condomínio foi o policial reformado Ronnie Lessa. Lessa e Queiroz estão presos desde março de 2019 sob acusação de terem assassinado Marielle e seu motorista, Anderson Gomes.

Esse áudio, que foi entregue às autoridades pelo síndico do condomínio, é o mesmo que foi divulgado pelo filho presidente e vereador Carlos Bolsonaro (PSC), na última quarta-feira. Nele, uma voz anuncia a Ronnia a chegada de Élcio ao condomínio. 

O caso

Em 29 de outubro de 2019, o Jornal Nacional, da TV Globo, exibiu uma reportagem em que revelava que um dos porteiros afirmou em depoimento à polícia que Élcio de Queiroz entrou no condomínio dizendo que iria para a casa 58, de Jair Bolsonaro, que teria autorizado sua entrada. No entanto, o então deputado federal estava em Brasília naquela data.

A citação provocou forte reação de Bolsonaro que, durante viagem ao Oriente Médio, usou as redes sociais para rebater a acusação e anunciar que acionaria o ministro da Justiça, Sergio Moro, para que a Polícia Federal realizasse uma nova oitiva com o porteiro.

Horas depois, Moro pediu à Procuradoria-Geral da República que investigasse a "tentativa de envolvimento indevido" do nome de Bolsonaro na investigação. O pedido foi prontamente aceito pelo procurador Augusto Aras.

No dia seguinte à reportagem, o Ministério Público do Rio, numa entrevista coletiva, afirmou que o porteiro mentiu no depoimento. Mais cedo, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que mostrou ter acesso aos arquivos indicando que não havia registros da ligação mencionada pelo porteiro à polícia.

Após a coletiva, foi revelado que uma das integrantes do MP que participaram da entrevista coletiva, Carmen Bastos de Carvalho, fez campanha para Bolsonaro, e, na sexta-feira (1), diante da repercussão negativa, ela deixou as investigações da morte de Marielle e do motorista.

Reportagem em atualização

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