A Rússia adotou nesta quarta-feira (30) uma atitude desafiadora diante das sanções decididas pela União Europeia e pelos Estados Unidos devido aos acontecimentos na Ucrânia, as mais severas contra Moscou desde a Guerra Fria.
Para tentar obrigar o Kremlin a mudar de posição e cessar seu apoio aos separatistas na Ucrânia, os Estados Unidos e a Europa anunciaram uma terceira rodada de sanções na terça-feira, voltando-se para os setores vitais russos de finanças, energia e armamento.
No entanto, os líderes das instituições financeiras russas afirmaram que elas não afetarão suas operações e criticaram novamente o governo de Barack Obama.
"Obama não entrará para a história como um homem que fez a paz - todos já esqueceram de seu Prêmio Nobel da Paz - mas como o presidente americano que começou a nova Guerra Fria", afirmou Alexei Pushkov, presidente do Comitê de Relações Exteriores da câmara baixa do Parlamento russo, pelo Twitter.
Nesta quarta-feira, Moscou advertiu que as sanções americanas contra a Rússia terão consequências tangíveis para Washington.
"As verdadeiras perdas de uma política tão destrutiva e com tão pouca visão de futuro serão bastante tangíveis para Washington", declarou o ministério das Relações Exteriores russo em um comunicado.
Até agora, Moscou sempre insistiu que as sanções consolidarão a sociedade russa e ajudarão a economia a se tornar mais autossuficiente, enquanto seus cidadãos dizem não estar preocupados com elas.
Segundo uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira, 58% dos russos dizem não se preocupar com um possível isolamento do país no cenário internacional e 61% afirmam a mesma coisa sobre as sanções econômicas e políticas contra Moscou, indica o estudo do centro independente Levada.
Para 59% dos entrevistados, as sanções afetam apenas a elite política russa, responsável pela tomada de decisões.
Por outra parte, 60% dos russos que vivem em grandes cidades são contra a adoção de sanções comparáveis contra a UE e os Estados Unidos e consideram necessário prosseguir cooperando com o Ocidente.
Os países ocidentais decidiram estas sanções contra a Rússia - o maior produtor de energia do continente europeu e um grande sócio comercial - mesmo com Moscou negando ser o responsável por ter fornecido um míssil que derrubou um avião da Malaysia Airlines com 298 pessoas a bordo.
Embora as sanções queiram atacar setores chave da economia russa e o círculo de oligarcas próximos ao presidente Vladimir Putin, os economistas advertiram que a economia europeia também sofrerá.
As novas sanções dificultarão o acesso dos bancos estatais russos aos mercados financeiros europeus, obrigando-os a assumir custos maiores, e colocarão travas em uma economia que já está em dificuldades.
O Banco Central russo declarou que as instituições financeiras estavam trabalhando normalmente, e que em caso de necessidade adotará medidas para proteger as instituições afetadas, que incluem o segundo banco mais importante do país, o VTB.
Atingir onde dói mais
Muitos economistas reconheceram que as novas restrições atingiram onde mais dói e podem aumentar as tensões sociais de uma economia russa que se encaminha para a recessão.
Alguns diplomatas da UE afirmaram que as sanções podem convencer Putin de que já não tem nada a perder se prosseguir com a escalada do conflito.
Ao anunciar as medidas, Obama negou que o Ocidente tenha começado uma nova Guerra Fria contra seu ex-inimigo soviético.
O presidente americano advertiu que as novas sanções afetarão uma economia russa que já cambaleia em direção a um crescimento de 0%, e disse que Washington tinha provas de que a artilharia russa havia disparado contra as forças ucranianas.
Acrescentou que os aliados estão mais decididos agora em agir de forma conjunta, desde que um avião da Malaysia Airlines foi derrubado sobre a Ucrânia.
Tanto os Estados Unidos quanto a Ucrânia acusaram os rebeldes apoiados por Moscou de atingir esta aeronave em pleno voo, enquanto o governo russo acusava Kiev.
Na Ucrânia, os combates entre o exército e os separatistas pró-russos no leste impediram novamente nesta quarta-feira os investigadores internacionais de se dirigir ao local do acidente com o MH17.
Os restos de algumas das 298 vítimas, que incluem cerca de 200 cidadãos holandeses, permanecem na zona quase duas semanas após a catástrofe.