Alex Salmond, impulsionador de uma Escócia independente, tem razões para estar satisfeito com o seu referendo separatista que decidirá o destino de seu país: no melhor dos casos, obterá uma vitória histórica e, no pior dos cenários, conseguirá grandes concessões por parte de Londres.
O ex-funcionário e ex-economista do Royal Bank of Scotland pode, legitimamente, aspirar a alcançar, aos 59 anos, o sonho de uma vida.
Se em 18 de setembro o "Sim" vencer, ele será o pai da independência, enquanto que, se o "Não" sair vencedor, seus adversários se comprometerão em dar maior autonomia ao governo regional que lidera.
O separatista que abalou Londres e que faz os nacionalistas sonharem fala enfaticamente de seu projeto para uma nação de 5,3 milhões de pessoas, um futuro distante da Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda do Norte, fora do Reino Unido.
Ele pretende "libertar os escoceses" de três séculos de União; romper "as algemas" que unem Edimburgo a Westminster, o Parlamento britânico em que beneficiou de um assento entre 1987 e 2010; presidir "um dos mais menores países mais ricos do mundo". Um país que seguirá o modelo social-democrata escandinavo, membro da UE e da Otan, mas sem armas nucleares. Rico como a Noruega e a Suíça, graças ao ouro negro do petróleo do Mar do Norte e o âmbar dourado, o uísque.
Contra os separatistas, que antes zombavam de seu sonho e que hoje o temem, proclama: "Nossa hora chegou, nada pode nos deter."
Seus partidários elogiam sua determinação e habilidade política. Seus opositores o veem como arrogante, misógino e com uma propensão ao populismo. No entanto, a imprensa britânica concorda em ver nele um dos políticos mais talentosos de sua geração.
PURO PRODUTO ESCOCÊS - Nascido no último dia de 1954 em um bairro de classe operária de Linlithgow, perto de Edimburgo, Alexander Elliot Anderson Salmond é um produto local puro como evidenciado por seu sotaque e bacharelado, em economia e história medieval pela prestigiosa Universidade de St. Andrews.
Sua sorte mudou em 1990, quando então deputado pelo Banff y Buchan assumiu as rédeas do marginal Partido Nacional Escocês (SNP). O converteu em centrista, quatro anos antes de Tony Blair fazer da "máquina trabalistas de perder" o glamouroso "New Labour".
David Torrance, autor de "Salmond: Against the Odds" (Salmond, contra todas as probabilidades), traça um paralelo entre os dois escoceses, dois homens mais pragmáticos do que dogmáticos. Para eles, "o que importa é o que funciona".
Em 2000, o SNP registrou um revés nas eleições para o Parlamento regional em Holyrood, recuperado pelo governo Blair, em nome da descentralização.
Alex Salmond deixou a liderança do seu partido "para sempre". "Eu mudei de ideia", disse ele com calma quatro anos depois.
Eleito primeiro-ministro regional em 2007, dominou o heterogêneo SNP com um punho de ferro. Deliberadamente provocador, lembrou que seu pai era um admirador do ditador soviético Joseph Stalin.
Em 2011, o SNP finalmente ganhou a maioria absoluta no Parlamento escocês.
Salmond, que recrutou para sua causa o ator Sean Connery e que cultiva amizade com magnatas como Rupert Murdoch e Donald Trump, exigiu um referendo. E ele conseguiu.
ANTI-WESTMINSTER - De acordo com seus colegas, ele tem "um temperamento explosivo" e um senso inato de proferir as palavras mais ofensivas e contundentes. Sua piada política favorita? "Há mais pandas gigantes (dois) no Zoo de Edimburgo que deputados conservadores para a Escócia". Na verdade, apenas um sobreviveu ao tsunami SNP.
Salmond carrega contra ele o "establishment" de Westminster, como é conhecido no Parlamento britânico e no mundo político de Londres, mas nega qualquer sentimento anti-britânico. Apesar de supostamente ser republicano, prometeu manter a rainha Elizabeth como soberana.
Comunicativo, não diz nada sobre sua vida privada. Sua esposa Moira, 17 anos mais velha que ele, raramente aparece ao seu lado. O casal não tem filhos.
Suas paixões? Ama corrida de cavalos e por um tempo fez previsões para um jornal de Glasgow. Desfruta com um bom vinho Bordeaux, o curry, e é fã de futebol, torcendo para o Hearts.
Também gosta de cantar. Com uma predileção por "Scots Wha Hae", que narra a vitória escocesa sobre os ingleses na Batalha de Bannockburn, há 700 anos.