O grupo Estado Islâmico (EI), que tenta há três semanas derrotar as forças curdas na localidade síria de Kobane, continua avançando nesta estratégica cidade próxima à fronteira turca, apesar dos bombardeios aéreos da coalizão internacional.
Do lado turco da fronteira, é possível ver colunas de fumaça sobre Kobane e também ouvir o barulho das explosões e dos aviões de combate sobrevoando a área.
"O EI ha conseguiu tomar no sábado à noite a parte sul da colina de Mashtanur, localizada no sudeste e que domina Kobane", informou à AFP o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
"Os bombardeios causaram muitas perdas humanas", informou ainda Abdel Rahman, acrescentando que a coalizão antijihadista realizou sete novos bombardeios durante a noite de sábado contra posições do EI.
"Se a coalizão não tivesse lançado os ataques aéreos no sábado, o EI estaria agora no centro de Kobane", concluiu.
A tomada de Kobane permitirá ao EI controlar uma ampla faixa contínua de território ao longo da fronteira com a Turquia.
A cidade é defendida por combatentes das Unidades Unidades de Proteção do Povo (YPG, principal milícia curda síria), menos numerosas e menos armadas que os jihadistas.
O grupo EI conseguiu se apoderar de mais de 70 localidades no norte da Síria, obrigando 300.000 pessoas a fugir. Delas, 180.000 se refugiaram na Turquia.
Segundo os especialistas americanos, o caso de Kobane ilustra bem os limites da intervenção exclusivamente aérea da coalizão, sem apoio em terra para guiar seus bombardeios.
"Os curdos enfrentam combatentes bem organizados e bem equipados", afirma Seth Jones, um ex-conselheiro militar americano. "Trata-se de um problema que afeta toda a Síria, onde a intervenção dos Estados Unidos não está bem coordenada com as forças em terra, em parte devido ao grande número de grupos rebeldes", explica.
No sábado, as forças curdas apoiadas por ataques aéreos dos Estados Unidos e de aliados árabes conseguiram a duras penas resistir à nova ofensiva dos jihadistas extremistas, que começou na noite de sexta-feira com o anúncio da decapitação de mais um refém britânico.
Os ataques deixaram ao menos 35 jihadistas mortos. Um ativista de Kobane, consultado pela AFP, confirmou os ataques aéreos.
"Os combatentes do Daesh (acrônimo do EI em árabe) diziam que recitarão as orações do Eid al Adha em Kobane, mas, por ora, não entraram na cidade", acrescentou a fonte.
A festa de Eid al-Adha ("sacrifício"), uma das mais importantes para os muçulmanos, começou neste sábado.
As forças curdas que defendem a cidade com a ajuda de rebeldes sírios conseguiram conter os últimos ataques do EI, mas os combates continuam intensos em Ain al Arab, nome de Kobane em árabe.
O Exército turco posicionou soldados nas colinas próximas, de onde observam os combates.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou com represálias caso o Estado Islâmico resolva atacar o túmulo de um dignitário otomano situado em um parte do território sírio sob soberania turca.
O governo turco, que recebeu autorização do Parlamento para participar das operações militares da coalizão no Iraque e na Síria, ainda não revelou quais são suas verdadeiras intenções em relação a sua participação no conflito.