Túnis espera ainda os resultados oficiais das eleições legislativas realizadas no domingo, mas o partido laico Nidaa Tunes assegura liderar os resultados da votação, ficando à frente os islamitas do Ennahda.
A instância independente que organizou as eleições, o ISIE, deve anunciar resultados parciais ainda nesta segunda-feira, embora tenha até 30 de outubro para comunicar a composição definitiva do parlamento e seus 217 deputados.
O partido laico Nidaa Tunes, uma formação heterogênea que agrupa tanto políticos da esquerda e de centro-direita, como caciques do regime do deposto presidente Ben Ali, assegura encabeçar os resultados.
Seu líder Beji Caid Esebsi, de 87 anos, declarou na noite de domingo que dispunha de "indicadores claros", que situavam seu partido na liderança. Pesquisas de boca de urna confirmam esta tendência, segundo a imprensa local.
Os tunisianos votaram no domingo para eleger sua primeira "Assembleia de Representantes do Povo" desde a revolução, uma eleição crucial para a transição democrática no país e sob forte esquema devido a ameaça jihadista.
Quase 80.000 policiais e militares foram mobilizados para essas eleições. A participação, segundo fontes eleitorais, chegou a 50,6%, duas horas antes do fechamento das zonas eleitorais. Os observadores temiam uma grande abstenção, dado que muitos tunisianos têm se mostrado desapontados com a política.
Cerca de 5,3 milhões de eleitores deveriam comparecer às urnas em 33 zonas eleitorais para eleger 217 deputados por representação proporcional. Os tunisianos no exterior votaram na sexta-feira em seus respectivos países.
Em outubro de 2011, a eleição da assembleia constituinte, vencida pelos islamitas do Ennahda, foi a primeira consulta livre da história do país, mas as legislativas deste domingo são fundamentais porque podem permitir à Tunísia de se dotar de instituições sólidas quatro anos após a contestação que deu origem à Primavera Árabe.
O primeiro-ministro Mehdi Jomaa elogiou um "dia histórico". "Todos os projetores foram lançados sobre nós e o sucesso desta operação é uma garantia para o futuro (...), uma luz de esperança para os jovens da região", declarou, enquanto a maior parte dos países que viveram a Primavera Árabe está mergulhado no caos ou repressão.
De acordo com analistas, dois partidos são favoritos: o islamita Ennahda, no poder de 2012 até o início de 2014, e seus principais opositores do Nidaa Tunes.
A campanha eleitoral foi morna, com muitos tunisianos desapontados com as batalhas políticas que atrasaram esta votação, prevista originalmente para outubro de 2012, em dois anos.
Os partidos se concentraram em dois grandes tema: a segurança, num momento em que a Tunísia tem testemunhado o surgimento de grupos jihadistas responsáveis por ataques que mataram dezenas de membros das forças de segurança, e a economia, que permanece anêmica e ferida pelo desemprego e a miséria.
O sistema de votação proporcional favorece as pequenas formações, e as principais forças políticas já salientaram que nenhum partido será capaz de governar sozinho.
O Ennahda, que teve de deixar o cargo no início de 2014 depois de um 2013 marcado por uma crise política, o assassinato de dois de seus adversários e ataques jihadistas, assegura querer formar um gabinete de consenso, dizendo estar pronto para uma aliança de conveniência com Nidaa Tounes.
Por sua vez, o maior partido laico, que fez campanha como alternativa única ao Ennahda, também planeja em caso de vitória foram uma coligação e não fecha completamente a porta à colaboração com os islâmicos.