O robô Philae usou sua broca para explorar o solo do cometa 67P, mas não se sabe se terá energia suficiente para sobreviver e retomar o contato com a Terra, anunciou nesta sexta-feira (14) a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).
"Esperamos voltar a ter contato esta noite, mas não é certo", disse à imprensa, em Darmstadt (Alemanha), Stephan Ulamec, encarregado da empresa aeroespacial alemã DLR, que fabricou o robô da sonda espacial europeia Rosetta.
Desde a quarta-feira, Philae está pousado na superfície do cometa de quatro quilômetros de diâmetro 67P/Churyumov-Gerasimenko, a mais de 510 milhões de quilômetros da Terra. Ele funciona corretamente e manda informações sobre o corpo celeste, mas está ficando sem energia.
O robô, do tamanho de uma geladeira e que pesa 100 quilos na Terra e apenas uma grama no cometa onde quase não há força da gravidade, é equipado com instrumentos de observação, embora careça de autonomia de movimento.
"Olá Terra! Tive uma noite muito agitada no cometa. Estou de novo em contato com minha equipe", escreveu Philae nesta sexta-feira em sua conta no Twitter, gerenciada pela ESA. Mas, em seguida, o robô voltou a perder contato e teme-se que suas horas estejam contadas.
Segundo cientistas da ESA, mesmo que isto aconteça, a "coleta" de informações científicas, obtida pelo Philae, já é muito rica: ele forneceu entre 70% e 80% dos dados previstos. "Vejamos o que fez, que é único e continuará sendo para sempre", insistiu o diretor de voo da ESA, Andrea Accomazzo.
Os cometas são aglomerados de poeira e gelo primordial, escombros restantes do processo de formação do Sistema Solar, há 4,6 bilhões de anos.
Por isso, Philae tenta analisar diretamente com seus instrumentos - que incluem seis câmeras fotográficas, um tomógrafo e um espectrômetro - o núcleo do cometa e decifrar as chaves para compreender como os planetas se formaram ao redor do Sol.
"Ativamos a broca" para capturar uma amostra do solo, disse Stephan Ulamec. A perfuratriz da broca desceu 25 cm. Em seguida, foi perdido contato com o robô e espera-se retomá-lo por volta das 23H00 GMT (21H00 de Brasília) desta sexta-feira, para conhecer os resultados da exploração, disse Ulamec.
MANOBRA PARA RECEBER MAIS LUZ SOLAR - A principal preocupação dos cientistas é que, por causa da escassa exposição à luz solar, as horas do robô estejam contadas. Sua bateria primária, com 60 horas de autonomia, já está quase no fim e só a luz do sol pode revivê-la.
"Só tem umas poucas horas de vida com a sua bateria. Depois, as baterias solares deverão tomar o lugar, mas o robô está na sombra", explicou à AFP Philippe Gaudon, chefe do projeto Rosetta, no Centro Nacional de Estudos Espaciais da França.
Infelizmente, o Philae ficou pousado em um declive que projeta sobre ele sua sombra. "Temos apenas 1,5 hora de luz solar ao invés das 6 ou 7 horas previstas", afirmou nesta quinta-feira Koen Geurts, um dos encarregados de voo da ESA. "Não é a situação que buscávamos", admitiu.
Os cientistas poderiam colocar o Philae em hibernação enquanto ele recarrega sua bateria com os poucos raios de luz que conseguem chegar ao local escuro onde se encontra. Ele pousou ali na quarta-feira, fora de controle, após quicar duas vezes na superfície do cometa.
Segundo Stefan Ulamen, a ESA planeja como manobra de último recurso girar suavemente o robô para que receba um pouco mais de luz em seus painéis solares. "Isto aumentará as chances de que volte a acordar", disse.
Desde 6 de agosto e depois de mais de dez anos de viagem interplanetária com um total de 6,5 bilhões de quilômetros, a sonda não tripulada europeia Rosetta se desloca junto com o cometa, a poucas dezenas de quilômetros de distância, escoltando-o à medida que se aproxima do Sol.
Desde a quarta-feira, Rosetta recebe informações que o Philae envia do cometa e as transmite para a Terra através de ondas de rádio que demoram quase meia hora para chegar na velocidade da luz.
Seja qual for o desenlace da aventura do robô Philae, Rosetta continuará acompanhando o cometa à medida que o corpo celeste seguir sua viagem e se aproximar do Sol, alcançando o ponto mais próximo da nossa principal estrela em agosto de 2015.