O diálogo inter-religioso tem sido uma marca do pontificado de Francisco, e o último mês de novembro trouxe exemplos fortíssimos disso. O papa gosta de missões complexas: em passagem pela Turquia, encontrou-se com o patriarca Bartolomeu I, líder da Igreja Ortodoxa, separada da Católica há quase mil anos, e abriu caminho para a reunificação das duas correntes cristãs. Ainda naquele país, em visita à famosa Mesquita Azul, Francisco declarou que o islamismo não deve ser visto como uma religião de violência, e reiterou que o problema do terrorismo tem que ser enfrentado através de um compromisso conjunto, “com base na confiança mútua, que pode abrir o caminho para a paz duradoura”.
“É uma postura muito emblemática que se amarra, em termos simbólicos, às declarações que ele fez na Terra Santa, em Israel. Francisco é revolucionário ao promover a paz e o diálogo, indo além das questões pastorais da Igreja de uma maneira gritantemente diferente da escolhida pelo papa anterior, o atual papa emérito Bento XVI”, aponta o professor de relações internacionais Thales Castro.
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Ainda na época em que era arcebispo de Buenos Aires e atendia pelo nome de Jorge Bergoglio, o papa Francisco demonstrou sua disposição ao escrever o livro “Sobre o Céu e a Terra”, juntamente com o rabino Abraham Skorka. Na obra, eles defenderam que “orar é um ato de liberdade” e que “o diálogo nasce de uma atitude de respeito pelo outro, de um convencimento de que o outro tem algo de bom a dizer”.
Para o jornalista Félix Batista Filho, que foi o último padre a ser ordenado pelo falecido arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, mundialmente famoso por integrar a ala católica progressista, há muitos paralelos que podem ser traçados entre a figura do brasileiro e a do papa Francisco, a começar pela opção pelos pobres e a abertura ao ecumenismo.
Félix, que deixou de ser católico para poder casar mas não abandonou sua fé nem a admiração pelo antigo mestre, tornou-se clérigo da Igreja Anglicana do Recife e escreveu, em homenagem a dom Helder, o livro “Além das Idéias”. Em visita oficial ao Vaticano, integrando a comitiva de assessores do governador João Lyra, Félix conseguiu que um exemplar chegasse até as mãos de Francisco, por intermédio do bispo católico de Caruaru, dom Bernardino Marchió. “Acho que esse papa tem muito de dom Helder. Além da busca pela simplicidade, eles partilham a abertura às outras igrejas e à sociedade como um todo”, avalia.