Não podemos cometer a injustiça de dizer que o sucesso da Jornada Mundial da Juventude – que reuniu 3,7 milhões de pessoas em Copacabana em julho de 2013 – se deu por causa do então recém-eleito papa Francisco. Caso o pontífice ainda fosse Bento XVI, o público estaria lá da mesma forma. Os jovens católicos queriam ver um papa, independente de qual. Eles só não estavam preparados para Jorge Mario Bergoglio. Na verdade, ninguém estava. Francisco tinha sido nomeado sumo pontífice apenas cinco meses antes e ainda publicavam-se suspeitas sobre sua atuação durante a ditadura argentina. A JMJ 2013 seria seu primeiro grande evento.
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As primeiras pistas de que o País receberia um chefe de estado diferente vieram na preparação para sua visita. Francisco dispensou qualquer luxo: ficaria hospedado num quarto simples da Residência Assunção, no bairro Sumaré, e faria seu traslado num Fiat Idea prata. Resgatou o papamóvel aberto em detrimento ao modelo "aquário", mais utilizado depois do atentado contra o papa João Paulo II, em 1982. Em quase todas as suas aparições públicas, desceu do veículo, abraçou fiéis e abençoou crianças e enfermos. E a cada gesto desses, conquistava mais um pouco do coração dos brasileiros, um povo acostumado a conversar se tocando, a abraçar, a beijar o rosto. O país que "chega junto" se viu espelhado no pontífice.
Mas reforço: não podemos cometer a injustiça de dizer que Francisco "é um papa melhor" do que Bento XVI. O alemão Joseph Ratzinger é um dos maiores intelectuais vivos atualmente. Pavimentou o caminho para muitos dos debates levantados por Francisco hoje e considerados progressistas. Mas lhe faltam dois elementos que se encontram de sobra no papa argentino – carisma e liderança.
Quando a Vigília, ponto máximo da festa, foi transferida de Guaratiba para Copacabana por conta do mau tempo, o papa disse: "o verdadeiro Campo da Fé não é um lugar geográfico, mas somos nós mesmos! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos". Chegou junto e convocou os fiéis para fazer o mesmo. E tenho certeza que cada uma daquelas 3,7 milhões de pessoas o seguiriam para Guaratiba, Copacabana, Roma ou qualquer outro lugar.