Repercussão

Ataque terrorista contra jornal francês choca o mundo

Na última quarta-feira (7), homens armados invadiram a redação do semanário e mataram doze pessoas, entre elas quatro dos maiores chargistas do mundo

Da AFP
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Da AFP
Publicado em 08/01/2015 às 8:33
Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP
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O mundo ficou chocado na quarta-feira com o ataque de homens armados e aos gritos de "Alá é grande" contra a sede do jornal satírico Charlie Hebdo, localizada em Paris, onde doze pessoas foram executadas a tiros, incluindo os chargistas Wolinski, Charb, Cabu e Tignous.

Na madrugada desta quinta-feira, a polícia deteve o jovem Murad Hamyd, de apenas 18 anos, e seguia caçando os outros dois suspeitos do ataque ao jornal, os irmãos franceses nascidos em Paris Said Kuachi, 34, e Cherif Kuachi, 32, o último um jihadista conhecido pelos serviços antiterroristas.

Hamyd, que é cunhado de Cherif Kuachi, se entregou à polícia na cidade de Charleville-Mézières "ao ver que seu nome circulava nas redes sociais", explicou à AFP uma fonte ligada ao caso.

Os policiais divulgaram fotos dos irmãos em busca de informações que possam levar a sua captura, e advertiram que Cherif e Said Kuachi "estão armados e são perigosos".

Segundo um oficial, a polícia deteve várias pessoas durante a madrugada ligadas aos três suspeitos.

Uma grande operação foi deflagrada a princípio em Reims, no nordeste da França, e se estendeu posteriormente para várias cidades do país.

A unidade de elite da polícia Raid participa da caçada, revelou um oficial, advertindo para o risco de tiroteio e pedindo "a máxima prudência" aos jornalistas.

Segundo o jornal Le Monde, a caçada envolve mais de três mil policiais.

Mais cedo, o presidente François Hollande dirigiu-se até o local do atentado e confirmou que tinha se tratado de um ataque terrorista, o mais violento registrado na França em 40 anos.

Segundo testemunhas, os agressores estavam armados com fuzis Kalashnikov e um lança-foguetes quando invadiram a redação do jornal de forma determinada, demonstrando sangue-frio e coordenação, e dispararam contra os funcionários da publicação.

De acordo com fontes policiais, os autores do ataque gritaram "Vingamos o Profeta!", em referência a Maomé, alvo de charges publicadas há alguns anos pela revista, o que provocou revolta no mundo muçulmano.

Este ataque sem precedentes, o mais sangrento cometido na França em décadas, fez pensar rapidamente em uma vingança dos radicais islâmicos contra o jornal, que publicou caricaturas do profeta Maomé em 2006.

Os atacantes podem ter seguido orientações dadas pelo grupo Estado Islâmico (EI), contra o qual a França atua militarmente no Iraque.

A redação do semanário, surpreendida em plena reunião de pauta, foi dizimada. Quatro de seus caricaturistas - Charb, Cabu, Tignous e Wolinski -, muito conhecidos na França, estão entre os mortos, assim como dois policiais, um dos quais foi executado a sangue-frio quando estava caído no chão, ferido.

Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP
Um atentado na sede do jornal satírico francês "Charlie Hebdo" deixou 12 mortos nesta quarta-feira - Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP
ANNE GELBARD  AFP
Homens armados foram vistos próximos aos policiais - ANNE GELBARD AFP
Foto: BERTRAND GUAY / AFP
O periódico já havia sido objeto de ameaças no passado por ter publicado caricaturas de Maomé - Foto: BERTRAND GUAY / AFP
Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP
O presidente da França, François Hollande, chamou o ataque de terrorista - Foto: KENZO TRIBOUILLARD / AFP
Foto: MARTIN BUREAU / AFP
O ministro francês Bernard Cazeneuve esteve no local - Foto: MARTIN BUREAU / AFP
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Um atentado na sede do jornal satírico francês "Charlie Hebdo" deixou 12 mortos nesta quarta-feira - Foto: MARTIN BUREAU / AFP
Foto: Philippe Dupeyrat / AFP
Um atentado na sede do jornal satírico francês "Charlie Hebdo" deixou 12 mortos nesta quarta-feira - Foto: Philippe Dupeyrat / AFP
Foto: Philippe Dupeyrat / AFP
Um atentado na sede do jornal satírico francês "Charlie Hebdo" deixou 12 mortos nesta quarta-feira - Foto: Philippe Dupeyrat / AFP

Ao abandonar o prédio, os agressores atacaram um motorista e bateram em um homem com o carro roubado. 

O atentado deixou outros 11 feridos - quatro deles com gravidade -, segundo o procurador de Paris, François Molins, encarregado da investigação, .

Vários momentos da ação foram registrados por celulares de pessoas presentes na cena da tragédia.

"Ouvi disparos, vi pessoas encapuzadas que fugiram em um carro", declarou à AFP Michel Goldenberg, que tem um escritório vizinho na rua Nicolas Apert, onde fica a sede da revista.

"É um atentado terrorista, não há dúvida", disse o presidente francês, François Hollande, definindo o ataque como "um ato de uma barbárie excepcional".

Bandeiras tremulavam a meio-pau tanto no Palácio do Eliseu, sede do Executivo, quanto nas duas câmaras do Parlamento.

As imagens gravadas por celulares evidenciam que o ataque foi bem planejado, de acordo com um membro dos serviços de segurança.

"Vemos claramente pela maneira que portam suas armas que agem discretamente, bem ao estilo militar, com frieza. Eles receberam treinamento. Eles não agiram por impulso", afirmou.

"O mais impressionante é a sua atitude. Eles foram treinados na Síria, no Iraque ou em outro lugar, talvez até mesmo na França, mas o certo é que eles foram treinados", enfatizou, destacando também o sangue-frio dos terroristas.

Coincidência ou não, a Charlie Hebdo fez a divulgação em sua edição desta quarta-feira do novo romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior.

A obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois da eleição de um presidente da República muçulmano.

"As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes... Em 2022, faço o Ramadã!", ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.

A revista de humor tem sido ameaçada desde que publicou as charges do profeta Maomé.

Em novembro de 2011, a sede da publicação foi destruída por um incêndio criminoso, já definido como atentado pelo governo na época.

Em 2013, um homem de 24 anos foi condenado à prisão sob sursis por ter pedido na internet que o diretor da revista fosse decapitado por causa da publicação das caricaturas do profeta muçulmano.

O ataque desta quarta-feira contra a Charlie Hebdo foi condenado em todo o mundo como um ato de terrorismo contra a liberdade de expressão.

O presidente americano, Barack Obama, a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o Vaticano foram unânimes em condenar o atentado, definido pela maioria como um "ato de barbárie".

O papa Francisco expressou "sua firme condenação ao horrível atentado" contra a publicação e pediu a todos os católicos a "se opor com todos os meios à propagação do ódio e a toda forma de violência".

A Liga Árabe, Al Azhar, principal autoridade sunita, e o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) igualmente condenaram o ataque.

Em Lyon (centro-oeste) e em Toulouse (sudoeste), mais de dez mil pessoas foram às ruas para homenagear as vítimas do ataque, segundo estimativas das forças de ordem. Em Paris, mais de 35.000 manifestantes se reuniram na Praça da República, perto da sede do semanário.

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