Conflito

Líbia é um terreno fértil para o grupo Estado Islâmico

O grupo conseguiu se destacar de forma séria nas últimas semanas, depois de reivindicar um ataque contra o hotel Corinthia, no coração da capital líbia

Da AFP
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Publicado em 19/02/2015 às 13:09
Foto:  AL-FURQAN MEDIA / AFP
O grupo conseguiu se destacar de forma séria nas últimas semanas, depois de reivindicar um ataque contra o hotel Corinthia, no coração da capital líbia - FOTO: Foto: AL-FURQAN MEDIA / AFP
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Graças ao caos que tomou conta da Líbia desde a queda de Muanmar Kadhafi, o grupo Estado Islâmico (EI) encontrou neste país um terreno propício para construir um novo reduto, uma ameaça que multiplica as vozes a favor de uma intervenção estrangeira.

O vídeo divulgado no domingo pelo grupo jihadista, que mostra a decapitação de vários homens apresentados como cristãos coptas egípcios, ilustra a determinação do EI em exportar seus brutais métodos para fora dos territórios que controla na Síria e no Iraque.

O grupo conseguiu se destacar de forma séria nas últimas semanas, depois de reivindicar um ataque contra o hotel Corinthia, no coração da capital líbia, no dia 27 de janeiro, que terminou com a morte de nove pessoas, entre elas cinco estrangeiros.

Os jihadistas souberam aproveitar a anarquia que tomou conta do país desde a queda de Kadhafi, em 2011; as novas autoridades líbias não conseguem controlar as dezenas de milícias formadas por antigos rebeldes, que impõem sua lei diante de um exército e de uma polícia debilitados.

Há vários meses, dois grupos armados disputam o poder: o primeiro, dirigido pelo general Khalifa Haftar, que diz combater o terrorismo no leste do país com o apoio do Parlamento e do governo reconhecidos pela comunidade internacional; o segundo, "Fajr Libya", formado principalmente pelas milícias da cidade de Misrata (oeste), tomou o controle de Trípoli no último verão e instaurou um governo paralelo.

Sem parar de denunciar o terrorismo de forma regular, o "Fajr Libya" mantém laços obscuros com grupos radicais como Ansar Asharia e ainda não reconheceu a presença do EI na Líbia.

O grupo acusa Haftar e seus partidários do antigo regime de terem orquestrado um complô para justificar uma intervenção estrangeira e enfraquecer seus rivais.

Células adormecidas

No início da semana, as autoridades ainda não haviam conseguido confirmar que a decapitação dos coptas egípcios havia ocorrido em solo líbio.

Enquanto isso, o porta-voz das forças de Haftar indicava que "o exército líbio havia travado batalhas ferozes com o EI".

"Há células adormecidas em cada cidade, que mantêm relação direta com (o líder do EI, Abu Bakr) al-Bagdadi. Irão ocorrer outras operações terroristas contra os líbios ou os estrangeiros residentes na Líbia", afirmou à AFP o coronel Ahmed al-Mesmari, pedindo o apoio da comunidade internacional.

Com a execução dos cristãos egípcios, o EI "quer demonstrar ao público jihadista que seu braço na Líbia já está desenvolvido e que é a mais potente de todas as filiais do grupo fora do território sírio-iraquiano", considera Romain Caillet, especialista em movimentos jihadistas.

A expansão do grupo jihadista preocupa profundamente os países vizinhos de Líbia, como Egito ou Tunísia, e também outros estados africanos, como Níger e Chade, que recentemente consideraram indispensável uma intervenção militar na Líbia.

Terreno complexo

Na outra margem do Mediterrâneo, a Itália também se mostrou preocupada diante do avanço do grupo terrorista em solo líbio, sua antiga colônia, mas as primeiras declarações ministeriais a favor de uma intervenção foram moderadas pelo primeiro-ministro Matteo Renzi, partidário da prudência.

Um diplomata árabe em missão em Trípoli considerou que uma intervenção na Líbia não será tão fácil, por se tratar de um "terreno complexo no qual se misturam interesses e adesões" dos dois grupos.

Certamente o Fajr Libya rejeitará qualquer intervenção por sua relação com grupos islamitas moderados e radicais, considera o diplomata, razão pela qual "as possibilidades de êxito de qualquer coalizão diminuem consideravelmente".

No entanto, ao chegar a este ponto, "os líbios já não podem decidir quem pode intervir na Líbia e como. A Líbia deixou de ser apenas um problema líbio", completa o analista Mohamed Al-Jareh.

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