Um muçulmano foi condenado a seis anos de prisão por uma corte da China por se recusar a raspar a barba, informou a imprensa oficial.
A sentença faz parte da recente campanha de repressão ao extremismo religioso na turbulenta província de Xinjiang, no noroeste do país, onde se concentra a comunidade muçulmana da etnia uigur.
A mulher dele foi sentenciada a dois anos por vestir a burca, traje que cobre o corpo da cabeça aos pés.
A identidade do casal e sua etnia não foram reveladas pela corte de Kashgar, cidade no deserto de Xinjiang.
Segundo o jornal "China Youth Daily", as autoridades fizeram várias tentativas fracassadas de convencer o homem, de 38 anos, a raspar a barba e a mulher a retirar a burca dentro de uma campanha antiextremismo do chamado Projeto Beleza.
O homem também foi acusado de causar distúrbios públicos.
A China acusa o extremismo religioso em Xinjiang por uma série de atentados no país nos últimos dois anos, que deixaram centenas de mortos.
No início do mês, o chefe do Partido Comunista em Xinjiang afirmou que as autoridades prenderam vários extremistas chineses que haviam recebido treinamento lutando nas fileiras do grupo terrorista Estado Islâmico.
Em dezembro, a imprensa estatal estimou em 300 o número de chineses no EI.
O governo afirma que os militantes são separatistas que têm o objetivo de estabelecer um Estado independente em Xinjiang chamado Turquistão do Leste.
Ativistas e grupos de uigures no exílio dizem que a repressão do governo e o controle intenso das práticas islâmicas alimentam a insatisfação.
Discriminação econômica dos uigures em favor da etnia han, predominante na China, e asfixia da cultura local agravam o problema, afirmam.
Um dos objetivos do Projeto Beleza é banir o costume das mulheres muçulmanas de cobrirem a cabeça e o rosto.
Outros réus receberam sentenças parecidas às do casal, de acordo com a imprensa local.
As notícias sobre o caso, que se propagaram rapidamente por sites na internet, foram em seguida retiradas pela censura.
"Uma sentença pesada por deixar a barba crescer é típico de uma perseguição política. Se uma pessoa chinesa usa barba, é moda e liberdade pessoal. Se um uigur faz o mesmo, é um extremista religioso", disse Dixat Raxit, porta-voz do Congresso Mundial Uigur, baseado em Munique (Alemanha).
A implicância das autoridades chinesas com barbas causou um mal-estar no ano passado envolvendo o Brasil.
Oito brasileiros residentes em Pequim foram convidados pelo metrô a terem seus rostos fotografados e exibidos em várias estações, numa homenagem à Copa da Mundo.
Mas, na última hora, um deles foi excluído, o músico Fábio Sales, 36, mais conhecido em Pequim como Fabão. O motivo: sua barba.
Os representantes do metrô explicaram que a foto do músico não seria ampliada, como a dos outros brasileiros, porque a barba "não é algo bem visto" na China devido aos ataques terroristas.