Confusão sobre a identidade das 300 mulheres libertadas na Nigéria

Mulheres foram localizadas na floresta de Sambisa, um reduto do grupo islamita no nordeste da Nigéria
Da AFP
Publicado em 29/04/2015 às 12:40
Mulheres foram localizadas na floresta de Sambisa, um reduto do grupo islamita no nordeste da Nigéria Foto: Foto: AFP


As autoridades da Nigéria tentavam nesta quarta-feira identificar as quase 300 adolescentes e mulheres libertadas na terça-feira de um campo do grupo islamita Boko Haram, incluindo algumas que poderiam ser as jovens estudantes de Chibok sequestradas no ano passado.

Segundo o porta-voz do exército, Sani Usman, nenhuma das 219 adolescentes sequestradas em 14 de abril de 2014 - das quais não se tem notícia - está entre as libertadas, mas outro porta-voz militar, Chris Olukolade, pediu paciência até o fim do processo de identificação. As 300 mulheres foram localizadas na floresta de Sambisa, um reduto do grupo islamita no nordeste da Nigéria.

Os pais das adolescentes de Chibok expressaram nesta quarta-feira, mais uma vez, sua frustração depois do anúncio, em um primeiro momento, de que as filhas teriam sido libertadas. "Nossas esperanças viraram cacos", afirmou Enoch Mark, que tem uma filha e uma sobrinha entre as 219 sequestradas.

"Quando ficamos sabendo da libertação pensamos que eram nossas filhas. Os pais começaram a ligar uns para os outros e esperavam a confirmação de que eram suas filhas", disse à AFP, antes de lamentar que o governo tenha mentido diversas vezes sobre a libertação.

Pogo Bitrus, que tem quatro sobrinhas entre as sequestradas, também desconfia do exército.  "Se o exército tem agora a capacidade (para libertar as reféns), por que não fez isto antes?", questiona. A Nigéria anunciou na terça-feira o resgate das 200 meninas e 93 mulheres, informando que uma força militar "capturou e destruiu três acampamentos de terroristas na selva de Sambisa". 

"Por enquanto, não se pode confirmar que se tratem das meninas de Chibok. As pessoas libertadas estão sendo examinadas e identificadas", enfatizou Olukolade no comunicado. Olukolade não informou quanto tempo levará para identificar as reféns.

O grupo islamita radical Boko Haram reivindicou o sequestro de 276 meninas de uma escola de ensino médio em Chibok, no estado de Borno, em 14 de abril do ano passado. Cinquenta e duas meninas escaparam horas depois do ataque, mas 219 continuavam em cativeiro.

Nas semanas que se seguiram ao sequestro em massa, forças de segurança nigerianas e locais em Borno informaram que havia indícios de que as meninas tinham sido levadas para a Floresta Sambisa.

Mas autoridades da Defesa e especialistas concordaram que elas provavelmente teriam sido separadas nos últimos 13 meses, lançando dúvidas significativas sobre a possibilidade de que estivessem sendo mantidas juntas como um grupo.

O líder do grupo Boko Haram, Abubakar Shekau, prometeu "casá-las" ou vendê-las como "escravas". O ataque a Chibok despertou uma atenção internacional sem precedentes ao grupo rebelde nigeriano.

Celebridades e personalidades de destaque, como a primeira-dama americana Michelle Obama, aderiram à campanha no Twitter #BringBackOurGirls (Devolvam nossas jovens, em inglês), que contou com o apoio de simpatizantes de todo o mundo.

Desde o início de 2014, quase 2.000 mulheres e adolescentes foram sequestradas pelo grupo islamita, segundo a Anistia Internacional.

A operação militar na floresta de Sambisa é parte de uma ofensiva regional nigeriana contra o Boko Haram, iniciada em fevereiro e que também conta com as participações de Níger, Chade e Camarões.

A insurreição islamita e a repressão pelas forças de segurança deixaram mais de 15.000 mortos na Nigéria e 1,5 milhão de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas pelo conflito, segundo a ONU.

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