Os senadores brasileiros hostilizados e impedidos de cumprir agenda de apoio à oposição venezuelana na visita-relâmpago a Caracas na última quinta-feira acusaram a Embaixada do Brasil de passividade e cumplicidade com o governo do presidente Nicolás Maduro. Líder da comitiva de oito senadores, Aécio Neves (PSDB) chegou a dizer que o embaixador Ruy Pereira "desapareceu" e não prestou a devida assistência diante dos incidentes.
Na saída do aeroporto Simon Bolívar, situado a 40 km do centro de Caracas, o micro-ônibus que levava o grupo foi cercado por dezenas de partidários do governo, que bateram no veículo gritando: "[Hugo] Chávez não morreu, multiplicou-se". Em seguida, o veículo ficou parado numa curva de acesso à via expressa que leva ao centro devido a um congestionamento causado por um bloqueio policial.
Fontes envolvidas na visita, porém, dizem que os senadores haviam sido claramente informados de que a representação não iria acompanhá-los. O aviso teria sido feito na véspera da chegada da comitiva, quando Eduardo Saboia, assessor da Comissão de Relações Exteriores do Senado em missão preparatória, reuniu-se com o embaixador Ruy Pereira para tratar da visita.
Segundo as fontes, Pereira se comprometeu a fornecer transporte, a fazer as devidas gestões de protocolo e segurança junto ao governo local e a estar presente na chegada e na saída da comitiva.
A embaixada também anunciou a Saboia que o governo venezuelano cederia uma escolta formada por dois carros de polícia e quatro batedores em moto.
Mas acompanhar os oito senadores na agenda política (que incluía visita à prisão de Ramo Verde, onde encontram-se opositores presos, e encontros com a oposição) foi descartado, já que poderia ser visto como comportamento indevido por parte de diplomatas credenciados juntos ao Estado venezuelano. Integrante da comitiva brasileira, o advogado Fernando Tibúrcio, assessor do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senador, Aloyisio Nunes, nega esta versão.
"Ouvi textualmente do diplomata José Solla [funcionário da embaixada] que ele ficaria conosco o tempo todo, para facilitar gestões e contatos em caso de transtorno como aquele que acabou acontecendo", disse à Folha por telefone na manhã deste domingo.
As fontes ligadas à organização da visita, porém, insistem em que os senadores estavam cientes dos impedimentos da embaixada. As fontes relatam que, ao sair do avião, por volta de 12h30 de quinta, Aécio teria dito a Pereira que agradecia sua presença e que entendia "perfeitamente as limitações nesta situação".
Pereira teria reiterado o aviso de que, cumprindo determinação do Itamaraty, estava recebendo a comitiva formalmente e voltaria a ver os senadores no momento de sua partida rumo a Brasília.
Após os incidentes na saída do aeroporto, Aécio e os demais senadores - Aloysio Nunes (PSDB), José Agripino (DEM), Ronaldo Caiado (DEM), Cássio Cunha Lima (PSDB), Ricardo Ferraço (PMDB), José Medeiros (PPS) e Sérgio Petecão (PSD) - retornaram ao estacionamento de um dos terminais para esperar que fossem tomadas providências para liberar as vias.
Os senadores telefonaram para o embaixador em busca de apoio e, em declarações à imprensa, passaram a acusá-lo de omissão. "Ele simplesmente lavou as mãos", disse Cássio Cunha Lima. Agripino afirmou que "talvez a embaixada [os] tenha abandonado por estar a par do que viria."
O Itamaraty disse ter prestado toda a assistência necessária. Pereira teria passado mais de duas horas em contato telefônico com interlocutores em Brasília, incluindo o chanceler Mauro Vieira, e com autoridades venezuelanas, incluindo o vice-ministro para América Latina e Caribe, Alexander Yanis.
Segundo as fontes, o diplomata Solla teria telefonado para o comissário-adjunto do Corpo de Custódia Diplomática e Proteção de Personalidades para pedir reforço de batedores capazes de permitir o avanço da comitiva.
O funcionário venezuelano disse que iria verificar o ocorrido, mas nenhuma providência foi tomada para facilitar a chegada dos senadores, reforçando evidências de que o congestionamento foi deliberadamente provocado para minar a missão do Senado.
O governo da Venezuela negou ter impedido os senadores de cumprirem e atribuiu o congestionamento a um acidente com uma carreta na estrada do aeroporto. Houve, de fato, um acidente, mas ele ocorreu às 6h da manhã e, às 8h, a estrada já havia sido liberada. Pela via diplomática, o Brasil ainda aguarda explicações de Caracas sobre o ocorrido.