Em mais uma aparente expropriação ordenada pelo governo da Venezuela, Forças Armadas ocupam desde a noite de quarta-feira (29) um complexo de armazéns usado por empresas privadas da área de alimentos e bebidas numa área industrial a oeste de Caracas.
O alvo principal da operação é a Empresas Polar, maior grupo privado no país, que fabrica desde cerveja até farinha de milho usada nas arepas, prato típico nacional.
Mas também foram ocupadas instalações da Pepsi (sócia da Polar no país), da Coca-Cola e da Nestlé.
Segundo o jornal "Ultimas Noticias", uma juíza chegou ao complexo na noite de quarta, acompanhada por militares e policiais, e apresentou ordem do Executivo pela qual as empresas têm 60 dias para desocupar a área. O objetivo seria construir casas populares.
Em comunicado, a Polar pediu que o governo reconsidere a decisão e disse estar em contato com o Ministério da Moradia para obter mais detalhes sobre o caso.
"Não questionamos que se queira construir casas, que são tão necessárias, mas nos perguntamos por que isso precisa afetar instalações industriais ativas", disse a empresa, que alertou para a ameaça ao emprego de cerca de 600 funcionários e outros 1.400 empregos indiretos ligados a transporte e logística.
Dezenas de trabalhadores protestaram no local para defender seus empregos. A frase "Não à expropriação" foi pintada nos muros do complexo.
Também houve manifestações de apoio à decisão, por parte de simpatizantes governistas contentes com a perspectiva de conseguir novas casas.
Mas funcionários dos armazéns alertam que o desmantelamento do complexo, centro de distribuição de onde saem a cada mês 12 mil toneladas de alimentos em direção a milhares de comércios em 19 municípios, irá acentuar a escassez na região de Caracas.
Até a noite desta quinta (30), não estava claro se se tratava de expropriação definitiva.
Críticos suspeitam que o governo esteja tomando medidas populistas antes da eleição parlamentar de dezembro.
'GUERRA ECONÔMICA'
Não havia declarações oficiais sobre o caso até a noite desta quinta. Mas o presidente Nicolás Maduro costuma acusar o dono da Polar, Lorenzo Mendoza, de ser um dos "oligarcas" responsáveis pela suposta "guerra econômica" travada pelo empresariado contra o modelo chavista.
Segundo Maduro, o mundo dos negócios privados conspira com a oposição e com forças estrangeiras para ocultar estoques de alimentos e criar filas propositalmente com o intuito de jogar a população contra o governo.
Empresários negam as acusações e dizem que a escassez e o desabastecimento são resultado de políticas chavistas, como controle de preços e câmbios e expropriações de empresas produtivas.
A operação desta quarta-feira surge em meio a tensões sociais provocadas pelo risco de fechamento, nos próximos dias, de duas grandes fábricas de cerveja Polar devido à dificuldade de importar matéria-prima e outros insumos.
O tema causa nervosismo não somente no meio sindical, mas em boa parte da população, que teme ficar sem cerveja.
A Polar é alvo de ataques do governo desde a gestão de Hugo Chávez (1999-2013), quando teve várias plantas e instalações expropriadas.
Chávez declarou guerra aos grandes grupos privados depois que muitos dos maiores empresários venezuelanos fomentaram um fracassado golpe de Estado contra ele em 2002.