Migrantes econômicos dos Bálcãs se unem a refugiados do Oriente Médio

O número de solicitantes de asilo na Alemanha procedentes dos Bálcãs registrou um importante aumento desde o início do ano
Da AFP
Publicado em 26/08/2015 às 12:15
O número de solicitantes de asilo na Alemanha procedentes dos Bálcãs registrou um importante aumento desde o início do ano Foto: Foto: AFP


Milhares de refugiados fogem dos sangrentos conflitos no Oriente Médio para buscar asilo na União Europeia passando pelos Bálcãs, onde migrantes econômicos se unem a eles rumo, sobretudo, à Alemanha.

O número de solicitantes de asilo na Alemanha procedentes dos Bálcãs registrou um importante aumento desde o início do ano, situando-se logo depois dos refugiados sírios, segundo estatísticas divulgadas em Berlim.

Esta questão, assim como a crise de refugiados do Oriente Médio que preocupa os países da região e a UE, estará na ordem do dia da cúpula sobre os Bálcãs ocidentais que será realizada na quinta-feira em Viena na presença da chanceler alemã, Angela Merkel, e de dirigentes desta região que se converteu há meses em uma das principais portas de entrada em direção à Europa ocidental.

Nos sete primeiros meses de 2015, o número de solicitantes de asilo procedentes de Kosovo, Albânia e Sérvia aumentou de quase 3.000 a 32.000 pessoas, de 4.500 a 29.000 e de 12.000 a 18.000, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2014.

Os cidadãos dos Bálcãs fogem de uma região pobre, onde o desemprego é muito elevado, com a esperança de encontrar na Alemanha trabalho e uma vida melhor.

"O fenômeno está vinculado diretamente aos interesses de grupos criminosos, que obtêm grandes lucros graças a estas atividades e que inclusive incitam as saídas", declarou à AFP o chefe da polícia albanesa, Haki Cako.

"Estes grupos criminosos têm redes nos países de origem e na Europa, estão bem implantados", indicou, apelando para a implementação de uma estratégia conjunta para lutar contra os traficantes de pessoas.

Na Albânia, uma dezena de pessoas e ao menos cinco agências de viagens enfrentam ações judiciais por participar supostamente do tráfico de albaneses à UE.

Tirana anunciou um reforço dos controles nas fronteiras e informou aos cidadãos que suas possibilidades de obter asilo são quase nulas.

A Alemanha repatriará até o fim de setembro 770 albaneses.

 

Ameaças

Os motivos econômicos não servem para obter o status de refugiado, reservado apenas àqueles que são perseguidos. Menos de 0,2% destas petições são bem-sucedidas, mas após longos procedimentos.

"É preciso provar que sua vida nos países de origem corre risco", explica à AFP um responsável da polícia albanesa, Ardi Bide.

Neste sentido, candidatos albaneses a emigrar não hesitam em colocar explosivos sob seus veículos ou diante de seus apartamentos, com o objetivo de tentar demonstrar que são alvos potenciais de uma vingança e obter, assim, relatórios policiais que apoiam suas afirmações, segundo fontes policiais.

Marushe, uma desempregada de 30 anos cujo marido faleceu, pagou 400 euros ao prefeito de sua localidade para obter um certificado, segundo o qual seus filhos de 10 e 11 anos estão ameaçados.

"O desespero te obriga a fazer coisas ilegais", murmura, ressaltando que deseja viajar à Alemanha.

Segundo o responsável da Associação dos Missionários da Paz em Shkodra (norte), Nikoll Shumani, esta ONG recebe diariamente há vários meses 40 pedidos para obter este tipo de documento.

O vizinho Kosovo, independente da Sérvia desde 2008, passou por uma onda de emigrantes sem precedentes no início do ano.

No entanto, "13.000 kosovares foram repatriados desde janeiro de 2015, principalmente da Alemanha", disse Valon Krasniqi, responsável do ministério do Interior.

Para o analista político Florian Qehaja, "a lentíssima construção do Estado kosovar" desde que declarou sua independência, em 2008, provocou estas saídas.

Já na Sérvia o estatuto de país seguro, ou seja, onde os direitos humanos são respeitados, acordado pela Alemanha, teve um efeito moderador em relação ao número de pessoas interessadas no asilo econômico, disse o ministro sérvio do Interior, Nebojsa Stefanovic.

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